Números incertos

Há muita controvérsia em relação à expansão do coronavírus no Brasil

Por: Da Redação  -  05/04/20  -  20:21

Há muita controvérsia em relação à expansão do coronavírus no Brasil. De um lado, a curva de contaminação no País apresenta evolução preocupante, superior à de países como Itália e Espanha. As comparações são, entretanto, duvidosas, uma vez que os registros de contaminação apresentam muitas discrepâncias, tendo em vista a grande subnotificação que persiste.  


No Brasil, equipes de atenção básica afirmam que o problema é generalizado. A subnotificação, mesmo após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ter solicitado, em 20 de março, que todos os casos suspeitos, independente da sua gravidade, fossem relatados por Estados e municípios, vem ocorrendo. Em alguns, chega-se a um caso informado para cada 30 ou mais episódios em que pacientes podem estar doentes sem que as ocorrências sejam reportadas ao governo federal.  


Outro ponto controverso é a taxa de letalidade do novo coronavírus. Esse índice é calculado pela divisão entre os óbitos e os casos confirmados. Se não há detecção adequada - a quantidade de testes realizados é muito baixa, com situações dramáticas, com mais de 200 pessoas mortas em São Paulo sem que os exames respectivos tenham sido feitos até agora - evidentemente os números acabam distorcidos.  


Basta uma conta aritmética simples. Se há 50 óbitos e 1.000 casos confirmados, a taxa será 50/1.000, que dá, em percentual, 5%. Mas se a detecção for maior e mais precisa, o índice pode ser bastante alterado: com o mesmo número de mortos (50), se os casos confirmados forem 2.000, a relação será 50/2.000, ou seja, 2,5%. A testagem em massa, defendida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é extremamente importante para que políticas de isolamento e prevenção sejam postas em prática, atingindo pessoas e grupos infectados. E há a consequência prática nas estatísticas, que passarão a refletir, com muito mais precisão, o quadro real da pandemia.  


A falta de kits para testes e a inexistência de portaria específica do Ministério da Saúde para determinar quais casos devem ser considerados confirmados ou suspeitos têm feito com que muitos doentes não entrem nos cálculos que são feitos.A Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC) alerta que, no atual momento, há dúvidas e incertezas sobre o que realmente notificar e, principalmente, sobre o número real de casos. 


Em meio a números contraditórios, há alguns destaques positivos, como a informação que a curva de internação por insuficiência respiratória grave desacelerou após grande ascensão em meados de março, segundo a Fiocruz. Mas, estatísticas e dados à parte, os problemas persistem. Não há como fugir à realidade: os casos e, infelizmente, as mortes vão crescer nas próximas semanas, e a prevenção, notadamente nos grupos de risco, deve continuar em nível máximo. 


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