Novos ventos na economia mundial servem de alerta
Já há um consenso de que 2023 será repleto de dificuldades para o presidente e governadores que vencerem as eleições
Com o aumento dos juros americanos em 0,75 ponto percentual na quarta-feira (27) e a confirmação ontem de que os Estados Unidos entraram em recessão técnica (dois trimestres seguidos de queda do PIB, segundo critérios internacionais), os ventos da economia mundial mudaram, como afirmou o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ilan Goldfajn. A esse quadro se somam a Europa também com retração, ainda a ser confirmada, e subida de juros (Inglaterra e União Europeia). E ainda a China em desaceleração e com lockdowns em metrópoles para zerar a covid-19. Esta medida de Pequim atrasa cadeias de produção e o transporte marítimo e estimula a inflação mundial.
Esse quadro internacional também reflete no Brasil. Juros mais altos nos EUA retiram capitais dos emergentes em busca de taxas atraentes em um mercado seguro como o americano. Esse movimento faz o dólar subir, acrescentando que uma recessão mundial ou baixo crescimento desvaloriza as commodities agrícolas e minerais, base das exportações brasileiras. Isso também reduz a entrada de dólar no Brasil, um fator de pressão sobre o câmbio. Já a tensão eleitoral, com perspectiva de deterioração das contas públicas, também indica uma busca por proteção no câmbio (compra-se mais dólar).
O revés na economia mundial indica que o petróleo não terá motivo para subir. Exceto se o Federal Reserve, o banco central americano, segurar a taxa de juros para fazer o País crescer (nos EUA, além de ser guardião da moeda, o Fed tem como meta manter a geração de empregos), o que vai demandar mais combustíveis. Mas os países produtores de petróleo podem reduzir a produção para impedir a queda dos preços. Há também uma previsão de falta mundial de diesel a partir de setembro, a depender do crescimento das economias.
No Brasil, a inflação continua um problema. A queda recente se deu por redução de impostos e está concentrada nos combustíveis, de menor peso nas contas da baixa renda. Esta ainda sofre com os preços dos alimentos, principalmente laticínios. Neste mês, os economistas notaram também uma preocupante tendência de alta dos serviços. Com a reabertura da economia, há uma pressão da demanda sobre a oferta e isso poderá pesar no bolso do consumidor. Além disso, não uma tendência de recuo dos preços em geral, como reversão de muita inflação desde o ano passado, ficando a sensação de baixo poder aquisitivo.
A injeção de recursos públicos por meio de benefícios sociais deve ampliar o consumo das famílias, componente importante para o crescimento do PIB, mas isso poderá alimentar a inflação, anulando a política do Banco Central de juros altos. Se o País mantiver a geração de empregos em alta, esse fator ajudará a evitar a queda do PIB. Porém, já há um consenso de que 2023 será repleto de dificuldades para o presidente e governadores que vencerem as eleições.