Não bastam palavras

O presidente cortou R$ 240 milhões do meio ambiente, um dia após afirmar na cúpula que dobraria verba da fiscalização

Por: Redação  -  24/04/21  -  07:35
  O presidente cortou R$ 240 milhões do meio ambiente, um dia após afirmar na cúpula que dobraria verba da fiscalização
O presidente cortou R$ 240 milhões do meio ambiente, um dia após afirmar na cúpula que dobraria verba da fiscalização   Foto: Estadão Conteúdo

Pelo menos no discurso, a fala do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima, na quinta-feira, foi proativa, em defesa da sustentabilidade ambiental e sem o costumeiro negacionismo de sua gestão. Na videoconferência de quinta-feira com chefes de Executivo mundiais escolhidos a dedo pelo organizador da reunião, os Estados Unidos, o brasileiro disse que vai reduzir o desmatamento até 2030 e zerar a emissão dos gases do efeito estufa até 2050 (o compromisso anterior do Brasil era 2060). Entretanto, persiste o ceticismo em relação ao que o governo realmente está disposto a fazer, pois a volatilidade do temperamento e dos posicionamentos do Palácio do Planalto, que desfaz rapidamente o que poucas semanas antes se propôs realizar, é uma constante. As autoridades americanas tiveram o comportamento diplomático convencional ao elogiar a posição brasileira e se manifestar favoravelmente às promessas ambientais feitas por Bolsonaro, mantendo os canais abertos. Mas se mostraram com um pé atrás, na base do ver para crer. É o que deixou explícito o principal assessor da Casa Branca para o meio ambiente, John Kerry. “Alguns comentários do presidente Bolsonaro me surpreenderam, foram muito bons”. Depois completou: “a questão é, eles farão? (referindo-se ao mesmo tempo ao brasileiro e ao russo Vladimir Putin).


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Há desconfiança no próprio Brasil devido à experiência que já se tem com Bolsonaro. Por exemplo, houve uma traumática transição do comando de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde para o do médico Marcelo Queiroga sob a expectativa de uma inversão das posições fantasiosas do governo frente à pandemia. Um mês depois de sua posse, o presidente voltou a participar de aglomerações e dispensar a máscara. Nesta semana, disse que a Butanvac, vacina em desenvolvimento no Instituto Butantan, é “mandrake”.


O contexto dos últimos dias também não colabora para o recém-firmado compromisso ambiental do governo. Às vésperas da cúpula, os fiscais dos órgãos federais de meio ambiente denunciaram que suas atividades de fiscalização estavam inviabilizadas por medidas tomadas pelo ministro Ricardo Salles, e o ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, afirmou que Salles, protege desmatadores. Veiculou-se ainda que o quadro da fiscalização foi reduzido à metade na última década. Quem vai então cumprir a meta de combate a desmatamento? Segundo o governo, forças de segurança, como policiais e militares, gerando suspeita de estratégia montada às pressas. Daqui para a frente, será cobrando com veemência o engajamento do governo na tarefa que compete a ele, que é preservar a mata. Porém, a última notícia de ontem é de espantar qualquer um – o presidente cortou R$ 240 milhões do meio ambiente, um dia depois de afirmar na cúpula que dobraria a verba da fiscalização. Assim, fica difícil acreditar que rumo esse governo pretende tomar.


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