Na casa dos trilhões

Divulgação pelo Tesouro Nacional de que o País ruma para uma dívida pública de R$ 4 trilhões mostra que a reformulação da aposentadoria é o esforço político e fiscal mais correto que se faz neste País em décadas

Por: Da Redação  -  27/07/19  -  20:09

Durante os debates da reforma da Previdência, ganhou adeptos nas redes sociais a ideia propagada por parlamentares da esquerda de que a economia de R$ 1 trilhão em dez anos com a reforma da Previdência teria efeito contrário – causaria recessão porque esse valor deixaria de circular na economia. O apoio a tal tese é reflexo de um costume arraigado de depender das transferências do governo, mesmo que para financiar esses gastos sejam consumidos bilhões de reais em juros, como é o caso da Previdência Social. A divulgação na sexta-feira (26) pelo Tesouro Nacional de que o País ruma para uma dívida pública de R$ 4 trilhões mostra que a reformulação da aposentadoria é o esforço político e fiscal mais correto que se faz neste País em décadas.


Apenas em junho o governo pagou R$ 20 bilhões de juros da dívida. Esse valor só não foi maior porque a taxa Selic derrubou a remuneração dos títulos oferecidos ao mercado. Mantido esse ritmo, a barreira psicológica dos R$ 4 trilhões de endividamento será superada até o final do próximo mês. Além do valor astronômico, essa cifra preocupa porque ela ronda a relação de 80% da dívida bruta sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Essa proporção estava na casa dos 60% na década passada – o ganho de quase 20 pontos percentuais mostra como o governo se envolveu em uma aventura perdulária, resultado de programas governamentais que não tinham sustentação de receita. Para cobrir o rombo, o Estado endividou-se em ritmo acelerado e de forma extremamente perigosa. 


Esses 80% da relação dívida pública/PIB indicam que o País gasta quase tudo que produz para pagar aos credores. Mesmo assim, parte considerável da classe política, que não se restringe à esquerda, acha normal estimular os gastos do governo para ditar o crescimento do País. Entretanto, a conta mais pesada é a dos juros, cobrada pela sociedade para dar mais dinheiro ao setor público. 


No ano passado, a Previdência atingiu rombo de R$ 290 bilhões. O governo cobre essa diferença por meio do endividamento – assim, é a sociedade que paga a conta. Porém, se a reforma for exitosa, a economia obtida circulará no setor privado, gerando investimentos e empregos e, consequentemente, proporcionando mais receita aos entes públicos. A competição é a grande vantagem do capitalismo, pois premia os eficientes e estimula o progresso. Entretanto, no Brasil a associação do setor privado com o governo para obter vantagens está semeada na economia desde os tempos da colonização. Mudar esse costume envolve combater privilégios e oportunistas. A modernização da relação capital/Estado no Brasil terá um efeito positivo sobre as contas públicas. Mas não se deve se iludir – o País intercala avanços e retrocessos historicamente e, por isso, até agora não conseguiu dar saltos de desenvolvimento como o da Coreia do Sul. As ideias atrasadas intensamente propagadas precisam ser combatidas. 


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