Mudanças no PSDB

Definindo os tucanos como um 'partido de centro', que não convive com o extremismo de direita e de esquerda, Bruno Araújo distancia-se do presidente Jair Bolsonaro, e também do PT

Por: Da Redação  -  04/06/19  -  17:25

Na última semana, o PSDB elegeu sua nova direção nacional. O ex-deputado federal e ex-ministro Bruno Araújo foi aclamado como presidente da legenda com o objetivo de colocar em prática as diretrizes do novo PSDB, alinhadas com as posições defendidas pelo governador de São Paulo, João Doria, principal líder do partido e potencial candidato à presidência da República em 2022.


As eleições de 2018 romperam o equilíbrio político que existia desde 1994, com disputas nacionais entre PT e PSDB. As perdas foram enormes para as duas legendas, e os tucanos saíram muito enfraquecidos. Geraldo Alckmin teve apenas 4,76% dos votos no 1º turno das eleições presidenciais, e a bancada de deputados federais do partido foi reduzida praticamente à metade, passando de 54 para 29 parlamentares eleitos em 2014 e 2018.


O PSDB surgiu como dissidência do PMDB, criado em 1988, e que reunia as lideranças chamadas "autênticas" do antigo partido de oposição ao regime militar. Seu nome - Partido da Social Democracia Brasileira - indicava clara inclinação pelas ideais da esquerda democrática, embora reunisse nos seus quadros figuras oriundas da democracia cristã (como Franco Montoro) e aqueles que defendiam o liberalismo econômico e social. Na essência, era um partido de centro-esquerda que se propunha a reformar as estruturas políticas brasileiras.


A realidade, entretanto, levou a sigla a assumir outros rumos. O sucesso do Plano Real, conduzido pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, levou-o à presidência e, a partir daí, o PSDB assumiu protagonismo nacional. Ocorreu então a coalizão de políticos social-democratas com economistas ortodoxos, definindo gradualmente o perfil de centro (alguns classificam de centro-direita) que a sigla assumiu.


A polarização PT-PSDB fez com que as disputas se acirrassem entre os dois partidos, e a disputa nacional pelo poder girou em torno deles de 1994 a 2014. As recentes mudanças na preferência do eleitorado impuseram um novo quadro, e o PSDB tenta retomar seu espaço. O novo presidente, Bruno Araújo, afirmou que o partido "não teria mais muro", aludindo às hesitações frequentes dos tucanos em relação à conjuntura política. Suas palavras foram: "vamos nos transformar no partido de posições".


Definindo o PSDB como um "partido de centro", que não convive com o extremismo de direita e de esquerda, Araújo distancia-se do presidente Jair Bolsonaro, e também do PT. O governador João Doria, embora tenha se aproximado do presidente na reta final da campanha e garanta apoio total do partido à reforma da Previdência, disse ser contra o alinhamento com o atual governo.


É cedo para avaliar o futuro do PSDB. Por enquanto, fica evidente a liderança de Doria e o afastamento das ideias social-democratas que marcaram sua origem.


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