Menos paixão, mais serenidade

Não faltam questões polêmicas para tornar o Brasil um permanente campo de batalha e maniqueísmos

Por: Da Redação  -  12/07/21  -  06:40
 al qual fla-flu ou o não tão longínquo vermelho-azul que desenhou o País nas eleições de 2014, a pauta agora é a impressão ou não do voto eletrônico.
al qual fla-flu ou o não tão longínquo vermelho-azul que desenhou o País nas eleições de 2014, a pauta agora é a impressão ou não do voto eletrônico.   Foto: Divulgação

O que parecia ser apenas mais um petardo nos discursos oficiais do atual governo vem se tornando tema de debates políticos, acadêmicos e, mais que isso, gasolina no fogo que arde há dois anos nas redes sociais, entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e oposicionistas. Tal qual fla-flu ou o não tão longínquo vermelho-azul que desenhou o País nas eleições de 2014, a pauta agora é a impressão ou não do voto eletrônico. Teorias conspiratórias foram lançadas sobre o atual sistema, há 25 anos implantado, e uma sombra de dúvidas paira sobre as eleições de 2022.


Antes de qualquer análise, é preciso dizer que o sistema de urnas eletrônicas foi criado justamente para solucionar o problema crônico de fraudes dos tempos das velhas cédulas em papel, onde cambalachos eram comuns nos pleitos em todas as esferas, especialmente naqueles municípios do recôndito brasileiro. A agilidade, transparência e eficácia do sistema tornaram o Brasil referência. Outro aspecto que merece registro: apesar de toda a politização do povo brasileiro, da hiper fiscalização do Tribunal Superior Eleitoral e da massa de fiscais de partidos que acompanha todo o processo desde a abertura das urnas em dias de eleição, nunca se identificou qualquer fraude.


Pois bem, a análise crua da questão termina aí, e agora entra a ponderação que exige menos fanatismo e mais capacidade de ouvir e raciocinar. Um sistema que tem a tecnologia como principal aliada sempre pode ser melhorado, e as urnas eletrônicas devem, sim, ter seu sistema aprimorado de tal forma que a possibilidade de fraude fique ainda mais remota. Mas uma estimativa modesta de quanto custaria conectar o atual sistema a uma impressora, para que o eleitor levasse o comprovante do voto para casa, indica um investimento de R$ 2 bilhões. O Brasil pode mesmo dispor desses recursos neste momento, em que a prioridade zero é a compra de vacinas e o auxílio à massa de desempregados? Se não há qualquer indicativo de fraude, é mesmo urgente correr com essa atualização faltando pouco mais de um ano para as eleições?


Não se está aqui descartando a necessidade de rever os processos e, com as mesmas garantias técnicas e de lisura que pautaram a criação das urnas em 1996, sugerir uma atualização, modernização, junção de tecnologias para zerar qualquer possibilidade de desvios. O que se questiona, isto sim, é a inadequação desse debate neste momento, em um país assolado pela pandemia nas questões sanitária e econômica, buscando caminhos para retomar seu rumo, melhorar sua imagem no exterior, resgatar milhares de estudantes que ficaram pelo caminho, reconstituir os cofres dos municípios e estados, que há 16 meses vêm sangrando para dar conta de atendimento à Saúde.


Já existem no Brasil bandeiras da discórdia demais para fazer da urna eletrônica mais uma pauta política. Essa, em especial, é apenas uma questão de bom senso.


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