Lucros sobem, a bolsa cai

A própria dificuldade da Câmara para votar a reforma tributária sinaliza uma contaminação do ambiente

Por: Redação  -  19/08/21  -  07:51
  Foto: Reprodução/Pixabay

Nas últimas semanas, as empresas de capital aberto divulgaram balanços do segundo trimestre com lucros surpreendentes. O que impressiona é que a bolsa de valores não replica o desempenho dessas companhias, que formam a elite do capital nacional. No acumulado deste mês até ontem, o Ibovespa caía 4%. Inúmeros fatores influenciam o desempenho das ações, mas neste momento o risco fiscal se sobrepõe a outros vetores, como o temor com a variante Delta e a inflação, que é um problema mundial. No Brasil, a crise entre os três poderes, que está integrada à antecipação da campanha eleitoral do próximo ano, parece gerar mais preocupação do que a esticada dos juros básicos pelo Banco Central, que faz a renda fixa atrair mais investimentos do mercado financeiro. Portanto, o ruído político já traz a turbulência para o mundo dos negócios.


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O gasto público centraliza olhares cada vez mais aflitos. Com os recursos federais incrivelmente limitados, o Governo ambiciona elevar suas despesas para demonstrar serviço em 2022. Até o momento, a equipe econômica calcula que há condições para aumentar o valor médio do Bolsa Família para quase R$ 300, mas a reivindicação do Palácio do Planalto é para aproximar dos R$ 400 – ainda não há fundos para isso.


Para o mercado financeiro e as companhias de capital aberto, aumento dos gastos públicos equivale à subida dos juros. Se o governo quer gastar e não tem dinheiro, o investidor vai cobrar mais pelos títulos do Tesouro. Essa eventual rentabilidade em ascensão dos papéis públicos funcionaria como uma espécie de esponja sobre os investimentos. Como os títulos do Tesouro são os produtos mais seguros do mercado financeiro, as outras opções, como empréstimos bancários e debêntures, teriam que pagar bem mais do que agora.


Dessa forma, com disputas políticas a todo tempo sobre os nervos do mercado, a retomada do País fica comprometida, pois o custo para investir, do pequeno ao grande negócio, ficará mais caro. Já há fatores demais que pesam contra, como a própria capacidade do coronavírus de se mutar, prolongando a perda de vidas e o fechamento das cidades, a inflação persistente e todo um ambiente deteriorado de baixo consumo e desemprego imposto pela pandemia.


A bolsa não representa o todo da economia, mas seu mecanismo antecipa tendências e a queda das cotações é um sinal preocupante. Por isso, é de grande importância que Judiciário e Executivo se reaproximem e que o Legislativo seja mais proativo para uni-los. A própria dificuldade da Câmara para votar a reforma tributária, algo que parecia encaminhado apesar das divergências, sinaliza uma contaminação do ambiente para negociar propostas, lembrando que o Centrão até pouco tempo se apresentava como um bloco coeso. O horizonte ainda é de recuperação da economia e de crescimento, mas os sinais são bem preocupantes.


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