Juros mais altos

Alguns índices indicam desaceleração de preços, mas pode ser temporário ou com inflação persistindo em níveis moderados

Por: Da Redação  -  11/12/21  -  08:26
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Economistas das principais instituições financeiras, no esforço para decifrar a última subida de 1,50 ponto percentual da taxa Selic, que chegou a 9,25% ao ano, indicam que o País poderá passar por juros mais altos do que o imaginado. Os analistas acreditam que a Selic atingirá seu pico entre 11,75% e 12,5% ao ano, conforme o jornal Valor.


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Esse teto, segundo o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, poderá ser atingido a partir de maio, com a taxa básica caindo conforme o recuo da inflação. O último Boletim Focus, pesquisa do BC com mais de 130 analistas financeiros, divulgado antes da nova Selic, prevê que essa referência encerrará o próximo ano em 11,25%. Trata-se de um patamar muito alto, de dois dígitos, que causaria sérios impactos na economia. A última vez que a taxa ficou acima dos 10% foi de novembro de 2013 a maio de 2017, um período de crise política e econômica, da derrocada do Governo Dilma Rousseff aos primeiros 12 meses da gestão de Michel Temer.


Essas previsões se devem à posição mais dura do BC de manter os juros nas alturas o tempo que for necessário para debelar a inflação e não ser brando para ajudar a economia. Ainda que haja um arrefecimento dos preços do petróleo, o crescimento mundial bem mais forte que no Brasil e as cadeias industriais ainda defasadas em relação à demanda tendem a pressionar as cotações das commodities (produtos minerais e agrícolas negociados em bolsa). A inflação internacional não pode ser manobrada pelo BC via aumento de juros. Por outro lado, a vontade dos governos de gastar em ano eleitoral tende a despejar recursos na economia, o que contraria a política do BC de subir os juros para retirar capitais e pressionar para baixo os preços dos supermercados e os serviços.


Alguns índices já mostram uma desaceleração dos preços internos, mas isso pode ser temporário ou com a inflação persistindo em níveis moderados, o que de qualquer forma continuaria a corroer o poder de consumo da população. Esse quadro desolador pode até ser revertido por uma conjunção de fatores, mas é importante que desde agora o Governo atue para melhorar o desempenho da economia. O foco apenas pontual em camadas da população para reverter índices de aprovação com vistas às eleições pode se tornar insuficiente para gerar a sensação de recuperação econômica no País.


A solução seria priorizar reformas, mas é algo que deve sair de vez do radar, assim como o corte de gastos parece impraticável. Há algumas boas notícias, como investimentos em saneamento básico e ferrovias, mas seus efeitos serão mais de médio e longo prazos. O crédito costuma ser um meio importante para manter as engrenagens da economia, porém as linhas aos poucos começam a incorporar a escalada dos juros básicos. Se a inflação tiver uma queda antes das previsões, talvez a Selic caia antes e o País se recupere logo. Entretanto, o Governo tem que fazer sua parte.


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