Investimentos na infraestrutura

Em um Brasil repleto de desafios, mas de muita ineficiência e problemas empurrados com a barriga, o que é uma excelente notícia pode virar um problema. É o caso da expectativa da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) para a safra paulista de 2021/2022, de crescimento de 20% em relação à anterior (2020/2021). Conforme A Tribuna publicou nesta segunda (25), há uma preocupação em relação à capacidade logística de escoamento dos grãos devido a uma expansão da produção em tão curto espaço de tempo.

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Não se trata de um caos à vista e os especialistas ouvidos pela Reportagem consideram que o setor portuário tem condições de suportar esse aumento neste ano. Mas fica o alerta para eventuais gargalos para o médio e curto prazos, como congestionamento de caminhões nas estradas ou filas nos acessos ao cais, uma situação que prejudica as exportações. Segundo o consultor da GO Associados, Maurício Sampaio, talvez ocorram algumas filas pontuais, mas o aumento do carregamento em ferrovia mantém a situação por enquanto controlada.

No âmbito nacional, há a questão do planejamento para evitar problemas futuros e dar conta da demanda. A sofisticação dos processos agrícolas e o aumento de produtividade devido a novas tecnologias e pesquisas poderão garantir sucessivos anos de elevação da produção, a depender da colaboração do clima.

No caso paulista, esse avanço da agropecuária no Estado é extremamente bem-vindo pelos capitais gerados, movimentando toda uma cadeia de serviços, e também por um aumento da oferta de empregos. Nesta safra, segundo a Faesp, que se baseou em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada com grãos no Estado atingiu 2,52 milhões de hectares – 5% a mais do que no ciclo de 2020/2021. Milho, algodão e amendoim são os destaques desse incremento agrícola, segundo apurou a Reportagem.

Mas, para suportar um incremento setorial – isso vale para todo o País –, investimentos precisam ser feitos nos vários modais de transportes, como rodovias, ferrovias e hidrovias. Entretanto, o Brasil enfrenta uma dificuldade histórica de investir de forma constante em infraestrutura, que ao longo das décadas se tornou um gargalo. O agronegócio se expandiu das tradicionais regiões produtoras, o Sudeste e o Sul, para novas fronteiras no Centro-Oeste, na Bahia, no Piauí, Maranhão e Rondônia, mas os investimentos nas estradas e ferrovias para escoar essas riquezas não foram feitos de modo a acompanhar o ritmo do campo.

Mesmo que no curto prazo não ocorram grandes problemas, Sampaio alerta que é preciso estar à frente do tempo, com capacidade calculada para muitos anos. Para atrair mais investimentos, ele alerta também para reduzir a insegurança jurídica, uma condição importante frente à troca de governos, respeitando contratos e sem mudar normas a todo momento.