Investimento social na infância

A pobreza de hoje mistura elementos da miséria do passado com a falta de acesso à tecnologia do século 21

Por: Redação  -  14/07/21  -  07:23
 A pobreza hoje mistura elementos da miséria dos tempos antigos com dificuldades impostas pela falta de acesso à tecnologia do século 21
A pobreza hoje mistura elementos da miséria dos tempos antigos com dificuldades impostas pela falta de acesso à tecnologia do século 21   Foto: Matheus Tagé/AT

Um estudo realizado pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) apontou que, de cada 100 pobres no Brasil, 40 são crianças e adolescentes, o que significa uma concentração elevada da miséria nessas faixas etárias. São 20,8 milhões de brasileiros que logo no começo de suas vidas deveriam contar com eficientes sistemas de educação, saúde e segurança pública para saírem dessa condição na fase adulta. Sem essa espécie de cobertura social, são jovens que continuarão dependentes em larga escala de programas assistenciais por muitas décadas a um custo muito maior para o Estado.


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O levantamento do IMDS se baseia em dados de 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE e foi publicado ontem pelo jornal Valor Econômico. Fundado pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e o economista e ex-diretor do IBGE, Paulo Tafner, o instituto defende a transferência de renda para erradicar a pobreza, mas como forma para propiciar a mobilidade social, como diz o nome da ONG.


Porém, não basta apenas fornecer a ajuda financeira contra a fome, mas também investir na qualidade da educação e da saúde. Para reverter esse quadro de miséria, diz o IMDS, a pobreza infantil poderia ser erradicada por R$ 28,2 bilhões por ano, lembrando que os subsídios concedidos pelo governo às empresas custam R$ 300 bilhões. Utilizando critérios do Banco Mundial, o ideal seria destinar R$ 436 por mês per capita às crianças, muito acima do que se vê hoje no Brasil. O Bolsa Família, criado no Governo Lula, é orçado em R$ 35 bilhões ao ano e apoia famílias com renda mensal até R$ 178,00 por pessoa. Ele paga um benefício médio de R$ 190 por grupo familiar. Já o atual governo pretende elevar o valor para R$ 300, mas ainda não sabe de onde vai tirar a diferença. A sobra do auxílio emergencial cobriria os gastos neste ano, mas fica a dúvida para 2022, ano eleitoral.


A transferência de renda não é uma unanimidade e gera intenso debate político, assim como é alvo de preocupação pelo impacto nas contas públicas ou possibilidade de desvios. Há muitos formatos possíveis e o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, defende o formato de vouchers ou uma forma híbrida, como o governo pagar uma parte do salário de um jovem empregado no setor privado, desde que ele se capacite. Muito se discute o impacto eleitoral, mas esses programas precisam ser desenvolvidos como política de Estado e não com o carimbo de um governo.


A pobreza hoje mistura elementos da miséria dos tempos antigos com dificuldades impostas pela falta de acesso à tecnologia do século 21. Ao mesmo tempo em que o botijão de gás acima de R$ 100 devolve muitas famílias à era da cozinha a lenha, milhões de crianças e adolescentes não têm condições financeiras de estudar remotamente por falta de celulares ou computadores. Mas ambas as condições terão reflexos negativos sobre esses jovens daqui para frente.


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