Impasse no Brexit

Parlamento britânico ainda não chegou a um consenso sobre os termos do acordo de saída do bloco

Por: Da Redação  -  05/04/19  -  20:12

Parece não haver solução para a retirada do Reino Unido da União Europeia, o famoso Brexit. Decidido por estreita margem do eleitorado britânico em plebiscito realizado em junho de 2016, não foi possível, até agora, chegar-se a um consenso no Parlamento sobre os termos do acordo de saída do bloco.


Nas últimas semanas, a primeira ministra Thereza May viu seus planos serem rejeitados sucessivamente. Na segunda-feira, houve nova rodada de votações e propostas foram derrubadas, entre as quais o estabelecimento de uma união aduaneira entre o Reino Unido e a União Europeia, derrotado por apenas três votos (276 a 273).


O impasse é enorme. O prazo dado pela Comissão Europeia para a solução do caso expira em 12 de abril, e parece remota a possibilidade de se encontrar uma saída aceitável no Parlamento britânico. Cresce, assim, o risco da saída sem acordo e sem transição negociada. Cabe destacar que a proposta de May, embora afirmasse a separação total do Reino Unido, previa a celebração de tratado assegurando que ela ocorreria de forma ordenada e com período de transição até dezembro de 2020, prorrogável até dezembro de 2022.


O Brexit pode ser definido como iniciativa desastrosa. Prevaleceu o discurso fácil do populismo que, explorando as dificuldades econômicas que vivia boa parte da população, prometeu melhorias com a afirmação da soberania nacional. Isso teve forte impacto entre os empobrecidos, revoltados com a globalização e as migrações, vistas como causas de seus problemas. Esse discurso uniu a esquerda e a direita contra o centro, e, na perspectiva dos conservadores, que detinham o governo, seria a retomada do controle no fluxo de pessoas e mercadorias, este ameaçando a destruição da indústria nacional.


Sabe-se, agora, que os custos do Brexit serão muito altos. O Reino Unido passará a pagar imediatamente tarifa de 10% sobre carros e outros produtos que exporta para o continente europeu, e todas as normas de controle de qualidade, fitossanitárias e patentes terão que ser rediscutidas. Ninguém sabe como serão feitos, de uma hora para outra, os controles alfandegários sobre bens, pessoas e serviços. Estima-se, na melhor das hipóteses, que o PIB britânico será reduzido em 8% até 2023, com terríveis consequências para o emprego e renda da população.


No atual momento, a união aduaneira, que quase foi aprovada, aparece como alternativa, com poucas mudanças no comércio. Outra possibilidade é realizar segunda consulta à população sobre a saída, mas sem condições políticas de ser adotada no momento. A primeira ministra Theresa May já anunciou que deixará o cargo se o Parlamento aprovar seu plano, fato cada vez mais difícil. Na realidade, o Reino Unido segue dividido, sem liderança para conduzir o processo, mergulhado em incertezas e indefinições.


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