Homeopatia urbana

Junto com moradias na área central, vêm os serviços, mercados, escolas e infraestrutura para atender seus habitantes

Por: Redação  -  20/04/22  -  06:21
Iniciativas públicas e privadas podem revitalizar o Centro de Santos
Iniciativas públicas e privadas podem revitalizar o Centro de Santos   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Jaime Lerner, o lendário arquiteto e urbanista curitibano, defensor da bandeira que prevê planejamento urbano e mobilidade como fatores imprescindíveis na ocupação dos espaços, entendia a reocupação dos centros antigos como parte de um processo lento, mas contínuo, com políticas públicas perenes e focadas na indução desse desenvolvimento.



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Em uma de suas várias entrevistas a A Tribuna, disse que o retorno do movimento ao Centro Histórico de Santos não se daria de uma só vez, mas a partir de medidas homeopáticas: cria-se uma primeira demanda, um primeiro empreendimento, e dele se seguirão outros serviços, outros produtos, outras ocupações.


A Prefeitura de Santos vem apostando na retomada do movimento da região central a partir da vinda de moradores, uma espécie de volta ao passado, já que até meados dos anos 60 centenas de famílias de classes abastadas viviam em casarões assobradados, geralmente próximos dos comércios de produtos e serviços explorados pelos próprios membros da família.


Se Jaime Lerner estava certo, a homeopatia pode estar começando e, quem sabe, produzirá efeitos em cadeia a partir de agora. Na Praça José Bonifácio, um prédio que até então funcionou como corporativo está sendo remodelado para acolher 27 apartamentos. A intenção é atrair o interesse de estudantes universitários que já frequentam um campus instalado na Praça Barão do Rio Branco, e também servidores públicos que transitam pela área e pagam aluguel em bairros distantes.


Vir para a Cidade, como era chamada a região central, era sinônimo de comprar em lojas de grife, fazer refeições em restaurantes tradicionais, resolver questões burocráticas e acessar o sistema bancário, todo concentrado nessa região. O que aconteceu dos anos 70 para cá os moradores já sabem: expansão de moradias para os bairros próximos da orla, levando também parte do comércio, da gastronomia e dos negócios.


Morando no Centro, com aluguel mais baixo e mobilidade facilitada, a ida e a vinda do trabalho podem ficar mais fáceis e baratas. E se chega moradia, chegarão também outras demandas: supermercados, farmácias e escolas, entre outros serviços e produtos.


Completar esse circuito e ver a velha região central novamente povoada, com portas de comércios abertas e intenso vaivém de pessoas e trabalhadores vai levar tempo, não apenas porque ações que envolvam investimentos dependem da curva sinuosa da economia brasileira, mas também porque muitos imóveis fechados têm pendências judiciais e precisam ser desembaraçadas em questões fiscais e tributárias. Mas é possível, sim, resgatar ao menos parte da relevância que a região já teve no passado.


Em uma cidade com apenas 39 quilômetros quadrados, estrangulada em seus espaços da zona leste, será um desperdício de oportunidade não engatar novas ações a partir dos pequenos sinais que já começam a surgir no horizonte.


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