Guerra urbana

As mortes de crianças, adolescentes e outros moradores decorrentes de troca de tiros se tornaram corriqueiras

Por: Redação  -  26/05/22  -  06:30
  Foto: Divulgação/PMRJ

A repetição de operações policiais com mais de duas dezenas de mortos no Rio de Janeiro é assustadora, ainda mais com o uso de armas de guerra em área habitacional e vítimas fatais inocentes, como foi pelo menos o caso de uma moradora, Gabriela Cunha, de 41 anos, na terça-feira, e sem efeito prático para derrubar a violência na capital fluminense. Esta foi a segunda incursão mais letal em um ano de governo de Cláudio Castro (PL) no Estado do Rio.


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Se for levado em conta o critério de grupos de estudos da violência da Universidade Federal Fluminense (UFF), de classificar como chacina três óbitos em uma mesma ação, o Governo Castro já acumula 180 mortos.


Considerando o grau de violência urbana e cansaço da população com a criminalidade, é esperado que haja apoio a ações violentas. Para o governo de ocasião, aparentemente a ideia é passar uma imagem de endurecimento com os bandidos, que já foi explorada por antecessores sem resultar em mais segurança nos anos seguintes.


O retrato que se tem hoje é que essas operações estão banalizadas, sem comprometer o tráfico ou reduzir os assassinatos violentos e toda uma série de modalidades de assaltos. Em resumo, o Rio de Janeiro, assim como as outras metrópoles e cidades médias, continua violento.


Mas o que mais compromete o saldo desses tipos de operações são as vítimas inocentes. Há alguns anos, quando começou a se falar em bala perdida (o caso de Gabriela Cunha), havia grande inconformismo. Porém, as mortes de crianças, adolescentes e outros moradores decorrentes de troca de tiros se tornaram corriqueiras. A conclusão que se tem é do fracasso da inteligência policial. No episódio da última terça, as autoridades afirmaram que decidiram agir às pressas na Vila Cruzeiro porque ficaram sabendo de uma reunião de lideranças da facção Comando Vermelho prestes a invadirem a Rocinha. Sobrou até para o Supremo Tribunal Federal (STF), que restringiu essas ações no Rio. O coronel da Polícia Militar Luiz Henrique Marinho alegou que líderes criminosos de outros estados migraram para o Rio devido à decisão do STF. Mas é conhecido que o Comando Vermelho se expandiu para outras parte do País, inclusive entrando em confronto com o PCC e facções locais.


Segundo reportagem da Folha, que consultou dois boletins de ocorrência referentes a 18 das 25 mortes, dez são citadas como resultantes de um confronto com 12 policiais com 20 a 30 criminosos em uma área chamada Pedra do Sapo e outras oito são de corpos encaminhados por "populares" aos hospitais. Pelo menos 15 óbitos não têm suas circunstâncias esclarecidas. No caso da operação em maio do ano passado em Jacarezinho, com 27 mortos, 11 BOs explicavam todos os confrontos, o que permitiu ao Ministério Público denunciar quatro policiais por três homicídios. Tudo indica que será mais difícil apurar se as condutas agiram conforme a lei.


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