Guerra comercial

Desvalorização do yuan é claro sinal que o governo de Pequim vai enfrentar de forma mais aguerrida e firme as posturas dos EUA no comércio internacional

Por: Da Redação  -  07/08/19  -  19:47

O mercado financeiro global foi abalado pela atitude da China que desvalorizou sua moeda em 1,56% em relação ao dólar, sendo rompida, pela primeira vez, a barreira dos 7 yuans por dólar. A decisão do governo chinês foi uma resposta às ameaças do presidente Donald Trump que, prometeu, na semana passada, aplicar tarifas de 10% sobre produtos chineses, num montante equivalente a US$ 300 bilhões.


Ao mesmo tempo, Trump sugeriu que poderia aumentar mais ainda os tributos, atingindo mais de 25%, ao reclamar que a China não tinha atendido às expectativas de que compraria mais produtos agrícolas americanos.


A reação foi imediata: as bolsas caíram em todo o mundo, e Wall Street teve o seu pior dia no ano, com o índice S&P 500 caindo 2,98%, o mesmo acontecendo com Dow Jones, que recuou 2,9%, e o Nasdaq 3,47%. Na Europa, Londres caiu 2,47% e Paris 2,2%, enquanto o indicador que reúne as bolsas chinesas de Xangai e Shenzhen diminuiu 1,9%.


No Brasil, a Bovespa quase perdeu o patamar dos cem mil pontos, atingido em junho, e fechou o dia com redução de 2,51%, enquanto a cotação do dólar subiu 1,68%, chegando a R$ 3,9566.


O episódio marcou mais um lance na disputa entre Estados Unidos e China pela hegemonia mundial. A desvalorização do yuan, que favorece as exportações chinesas, é claro sinal que o governo de Pequim vai enfrentar de forma mais aguerrida e firme as posturas dos EUA no comércio internacional.


Apesar da grande turbulência, analistas não esperam, porém, que a tensão prossiga de modo indefinido, apostando que, em nome da racionalidade econômica, haverá trégua em algum momento, embora a volatilidade nos mercados deva ser a tônica no curto prazo.


Nesta terça-feira (6), a Bovespa recuperou parte das perdas, embora a cotação do dólar tenha continuado em patamar elevado. As preocupações são que a tensão entre China e EUA deve ainda se prolongar, com idas e vindas, reduzindo o crescimento mundial e o preço das commodities, fato que cria ambiente adverso para o Brasil.


Há riscos que uma depreciação cambial mais prolongada possa trazer efeitos na inflação interna, o que levaria o Banco Central a suspender a atual política de redução da taxa básica de juros da economia.


Embora as exportações de soja possam ser beneficiadas, a briga dos gigantes globais não traz boas perspectivas para o Brasil, como pode ser visto com a queda do preço do minério de ferro. O conflito atual não é apenas no câmbio e no comércio, e envolve a hegemonia global, com clara disputa sobre quem vai ser a potência dominante, em termos tecnológicos e econômicos, nos próximos 50 anos.


A tempestade, ainda que moderada, exige atenção, uma vez que prenuncia tempos difíceis nos próximos meses, na medida em que China e Estados Unidos não parecem dispostos a ceder e negociar, agravando as tensões.


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