Filmes que se repetem

O episódio de Recife só mostra que tragédias ocorrem em áreas de risco, e esse é um dos maiores desafios da região

Por: Redação  -  30/05/22  -  07:17
Tragédias, como a que aconteceu em Petrópolis, têm sido comuns no Brasil
Tragédias, como a que aconteceu em Petrópolis, têm sido comuns no Brasil   Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Mais de 80 mortos, praticamente quatro mil desabrigados, 56 desaparecidos e ao menos 32 mil famílias vivendo em áreas de alto risco na Grande Recife (PE). Em fevereiro, as chuvas que atingiram a região serrana de Petrópolis (RJ) deixaram mais de 250 mortos e ao menos mil desalojados.


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O verão deste ano acabou com 50 pessoas mortas em decorrência das chuvas no Estado de São Paulo, o dobro do registrado na estação no ano passado, segundo dados contabilizados pela Defesa Civil de São Paulo na Operação Chuvas de Verão, realizada todos os anos de 1º de dezembro até 31 de março para reduzir os danos de inundações e deslizamentos.


Em outros estados, como Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, os eventos climáticos também causaram caos neste verão, com mais de 380 mortes no total e centenas de milhares de desabrigados, incluindo Petrópolis. A grande maioria dos deslizamentos ocorreu em áreas de risco, onde centenas de milhares de famílias vivem em condições irregulares, sujeitas a todo tipo de evento climático, que tem se tornado mais intenso ano após ano.


Notícias assim foram frequentes nos últimos meses, de tal forma que, ao cidadão comum, fica difícil guardar todos os episódios, assimilar as mortes e acompanhar a recuperação dos locais atingidos. Em outros estados, chega a soar como normose a sucessão de tragédias, pessoas soterradas, perda de vidas e bens materiais. Ocorre que cenas assim são iguais em todas as áreas de risco, e a Baixada Santista bem sabe que podem ter como protagonistas moradores da região, da mesma forma como aconteceu em março de 2020, e de forma mais branda neste verão, também em Guarujá.


Estudos feitos a partir de imagens de satélite apontam que quase 500 mil pessoas vivem em áreas de risco na Baixada Santista, em habitações irregulares construídas no pé e no alto dos morros, sobre palafitas, mangues e áreas de proteção ambiental. Em maior e menor grau, todos estão em variadas situações de vulnerabilidades, inclusive ser varrido pelas chuvas.


Este jornal tem feito inúmeras reportagens e encontros jogando luz sobre esse que é um dos principais desafios dos gestores municipais, estaduais e federais. Erradicar as habitações irregulares não é apenas uma questão de oferecer moradia digna às famílias carentes. É, também, reduzir gastos com saúde e prevenir ou eliminar o risco de tragédias como as que têm sido vistas em todo o País.


O quadro se agrava frente às consequências das mudanças climáticas, que têm intensificado o regime de chuvas, tanto na frequência como na força das águas. Se considerarmos que a população em áreas irregulares cresce, na média, quase 7% ao ano, é de se prever que aumenta exponencialmente o risco de deslocar o foco das notícias sobre tragédias para a região. Já passou da hora de uma ação regional, permanente e coletiva sobre esse tema. Ou isso, ou veremos o filme se repetir ainda muitas vezes.


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