Endividamento das famílias

O cenário econômico mais favorável provocou aumento no endividamento das famílias brasileiras nos últimos meses

Por: Da Redação  -  08/02/20  -  11:40

O cenário econômico mais favorável, com queda nas taxas de juro e maior confiança dos consumidores, provocou aumento no endividamento das famílias brasileiras nos últimos meses. Dados do Banco Central mostram que a proporção entre o valor das dívidas com o Sistema Financeiro Nacional e a renda efetiva acumulada em 12 meses atingiu 44,9% em novembro, 2,8% superior ao observado em igual período de 2018.


Não é crescimento explosivo. As dívidas vêm aumentando por onze meses de modo contínuo, mas em ritmo mais moderado. O comprometimento mensal da renda das famílias com dívidas, indicador mais importante para determinar seu poder de compra, avançou um ponto na comparação anual, chegando a 20,9% (sem considerar o crédito para compra de imóveis, o índice fica em 18,6%). Como a relação se mantém abaixo de 30%, e tendo em vista o menor custo das dívidas e o alongamento dos prazos, a situação não é considerada prejudicial às famílias.


Mas há motivo para preocupações em relação ao futuro. Houve, de fato, demanda reprimida por bens mais caros nos últimos anos, e é compreensível que, em condições mais satisfatórias, as pessoas se endividem para adquiri-los. Em dezembro de 2019, 65,6% das famílias tinham algum empréstimo ou compra a prazo, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), representando o nível recorde do levantamento, que começou em janeiro de 2010.


A expectativa é que o mercado de trabalho formal continue se expandindo, com crescimento dos empregos e renda. Mas a trajetória dos salários ainda é fraca, e mais dívidas podem comprometer o orçamento das famílias. O avanço dos empréstimos com recursos livres, pactuados entre bancos e clientes, foi de 14,7% entre 2018 e 2019, enquanto a massa salarial, que combina variação de emprego e renda real, cresceu apenas 2,5% no mesmo período, sugerindo problemas no médio prazo.


A demanda dos consumidores por crédito cresceu 12,4% em 2019, de acordo com a Serasa Experian, e foi puxada principalmente por pessoas de menor renda: na faixa que recebe entre R$ 500 e R$ 1.000 por mês, a alta foi de 14%. Merece ainda atenção o perfil do endividamento: houve o crescimento da contratação de crédito pessoal em bancos e do financiamento de carros, que são mais baratos e com prazos maiores, com menor impacto no orçamento mensal.


Mas a principal dívida vem do cartão do crédito (79,8%), que, embora com taxas de juros reduzidas, cobra ainda valores altíssimos dos devedores, a indicar que é preciso informar a população e investir em educação financeira, de modo a evitar que bolhas de consumo se formem a partir de dívidas que asfixiam as famílias, gerando altos e baixos na economia, que não interessam ao desenvolvimento saudável e sustentável.


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