Editorial: Festas questionadas

Esse embate intenso nas redes sociais faz um grande serviço pela austeridade e decência com as contas públicas

Por: Redação  -  04/06/22  -  08:42
Gusttavo Lima virou alvo por fazer shows com cachês milionários em pequenas cidades
Gusttavo Lima virou alvo por fazer shows com cachês milionários em pequenas cidades   Foto: Reprodução: Instagram

No retorno ao convívio social, as festas populares e seus shows nas pequenas e médias cidades também estão de volta. Com essas festividades, ainda mais em ano eleitoral, os prefeitos investem na contratação de artistas para atrair multidões sem cobrar ingresso. Com a febre do sertanejo e o sucesso junto ao público, a disputa pelas duplas subiu à estratosfera, assim como os cachês, o que levantou o questionamento do uso de grandes quantias de recursos públicos para esse fim.


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O debate é válido e investir em cultura e entretenimento para a população não deve ser reprovado, sempre observando se há muitas limitações de verbas no município, educação e saúde em situação precária ou infraestrutura destruída pelas chuvas, como é o caso de muitas localidades pelo País.


Duas cidades pequenas se destacaram nessa polêmica - Teolândia (BA), com apenas 15 mil habitantes, e Conceição do Mato Dentro (MG), com 18 mil. Segundo reportagens do jornal O Estado de S. Paulo e do portal g1, ambas destinaram mais de R$ 1 milhão, cada, para shows sertanejos em suas festas municipais gratuitas, porém, a um custo elevado para o cidadão, considerando a relação cachê/total de habitantes, entre R$ 67 e R$ 80.


A cidade mineira usaria royalties da mineração para pagar a conta, mas desistiu do gasto para evitar problemas com ações judiciais. Já o município baiano, que ontem teve seu show cancelado pela Justiça, está em situação pior ainda. Há pouco tempo, a Prefeitura alegou não haver dinheiro para dar aumento aos professores e as estradas e pontes estão ruins desde as chuvas que devastaram o leste do estado, no começo do ano. A prefeita chegou a pedir envio de Pix aos moradores para socorrer os desabrigados.


Para esquentar esse debate, a discussão sobre cachês milionários pagos por prefeituras está no contexto da guerra nas redes sociais sobre a Lei Rouanet. Em um de seus shows, o sertanejo Zé Neto disse que não dependia desse benefício fiscal, provocando os artistas que utilizaram esse artifício, aliás uma posição recorrente entre bolsonaristas no embate com artistas de esquerda. Desde então, começou a ser revelado o uso de verbas municipais com apresentações musicais do gênero sertanejo. Nesse movimento, acabou sobrando para Gusttavo Lima, grande astro do momento.


No fim das contas, esse embate que continua intenso nas redes sociais faz um grande serviço pela austeridade e decência com as contas públicas. As populações do interior e das capitais podem continuar frequentando esses shows, mas com um olhar mais atento e questionador sobre as prioridades de cada município. As festas são importantes para as comunidades e estão inseridas na economia criativa, gerando renda não só para artistas, como para comerciantes e condutores de passageiros, por exemplo, mas se espera que essas contratações sejam mais transparentes e fiscalizadas daqui para frente.


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