Desmatamento e Acordo com UE

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, declarou que “mudanças na gestão no Fundo Amazônia serão promovidas para melhorar resultados”

Por: Da Redação  -  09/03/20  -  09:39

O embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, declarou que, se não forem reduzidos os níveis de desmatamento da Amazônia, o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia não será ratificado pelos países europeus. Isso envolve o Fundo Amazônia, que não realiza desembolsos há mais de um ano, com cerca de R$ 1,5 bilhão parado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Destaque-se que 99% do montante acumulado no Fundo provem de doações dos governos da Alemanha e principalmente da Noruega, responsável por 93% do total.


A confusão sobre o Fundo Amazônia é antiga. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, suspendeu-o há um ano, alegando que havia irregularidades na aplicação dos recursos, fato nunca provado. Agora, ele declarou que “mudanças na gestão no Fundo serão promovidas para melhorar resultados” e os pontos modificados serão: composição do conselho, regras para aprovação de projetos e diretrizes do fundo.


Deve-se questionar a grande demora nesse processo. Os recursos estão parados, e o desgaste internacional do Brasil só aumenta. Na Noruega, a reputação do governo brasileiro é péssima, influenciada pelo perdão a desmatadores, intenção de reduzir unidades de conservação, explosão de garimpo na Amazônia e desrespeito aos direitos dos índios e comunidades tradicionais.


O ministro Salles continua insistindo em negar evidências. Os dados mostram que o desmatamento na Amazônia aumentou 29,5% entre agosto de 2018 e julho de 2019, quando comparado com igual período de 2017/2018, e Salles declarou que o Brasil é “modelo” em conservação ambiental, e por isso deve receber pelo menos US$ 10 bilhões dos US$ 100 bilhões prometidos por países desenvolvidos a nações em desenvolvimento pelo Acordo de Paris. 


Essa postura não contribui para os interesses nacionais. A ameaça ao acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, alimentada pelo fracasso das negociações em torno do Fundo Amazônia, é conse-quência da atual postura de negação dos problemas ambientais e da inércia em resolvê-los. 


Tudo isso contrasta com outras áreas do governo. Vale ressaltar o trabalho desenvolvido pela ministra Tereza Cristina, da Agricultura, e do ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde. Tereza Cristina, chefiando pasta que envolve interesses e pressões dos grandes produtores rurais, tem demonstrado equilíbrio e sensatez em suas decisões, enquanto Mandetta recebe elogios de todos os setores pela condução do processo sobre o coronavírus no Brasil.


Tem faltado postura semelhante na questão ambiental. Enveredando pelo perigoso caminho do confronto, baseado em duvidosos critérios ideológicos, o País acumula perdas, que podem ser cada vez maiores. 


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