Desenvolvimento e Preservação
A consciência sobre a necessidade de preservar o meio ambiente afirmou-se, sem que isso signifique que o desenvolvimento não possa ocorrer
Até meados dos anos 1970, o desenvolvimento econômico era prioridade: crescer era o objetivo, e isso implicava industrializar rapidamente o País, e realizar grandes obras, especialmente na infraestrutura, capazes de romper o atraso. Não havia condicionantes de espécie alguma: os governos não hesitavam em fazer gigantescos investimentos públicos, sem se importar com déficits fiscais ou inflação, enquanto preocupações ambientais não existiam.
Esse quadro alterou-se bastante nos anos seguintes. A consciência sobre a necessidade de preservar o meio ambiente afirmou-se, sem que isso signifique que o desenvolvimento não possa ocorrer. Confunde-se, aliás, desenvolvimento com crescimento: desenvolver é criar melhores condições de vida para todos, enquanto crescer, de modo isolado, significa muitas vezes aprofundar a desigualdade e manter privilégios.
O Fórum A Região em Pauta, promovido pelo grupo A Tribuna, discutiu o tema Desenvolver e Preservar, e a mais importante conclusão do evento, do qual participaram vários especialistas, é que não há incompatibilidade ou oposição entre o desenvolvimento econômico e a preservação do patrimônio, seja ele ambiental, urbanístico ou histórico.
Trata-se, ao contrário, de reconhecer a íntima relação de dependência entre as duas atividades: não há desenvolvimento (entendido como qualidade de vida para todos) se o patrimônio for destruído, mas também é preciso reconhecer que, para que o meio ambiente ou imóveis históricos sejam preservados, as atividades econômicas devem acontecer, com papel na geração de empregos e renda para a população.
Projetos de revitalização de áreas históricas em vários países do mundo só foram bem-sucedidos quando realizados em conjunto com a iniciativa privada. Não se trata apenas do turismo, ou da valorização do patrimônio enquanto tal: inúmeras experiências foram aliadas a empreendimentos habitacionais, comerciais ou de criação de espaços culturais.
No caso de Santos, o Centro Histórico vive acentuado processo de degradação. É forçoso reconhecer que os esforços até aqui não tiveram êxito, a indicar que é necessário mudar conceitos, ampliar o alcance das iniciativas, e reformular o Programa Alegra Centro. Ele tem elementos positivos, que devem ser preservados, mas é preciso ir além. A proposta de incentivo ao uso habitacional é, talvez, a mais importante, mas precisa ser complementada com a melhoria dos serviços públicos na região.
Deve merecer atenção ainda a renovação urbana de parte da área, com a permissão de construção de novos edifícios, sem que isso signifique a destruição do patrimônio histórico da cidade. O desafio é grande, mas precisa ser enfrentado, demonstrando que a preservação não é, definitivamente, obstáculo ao desenvolvimento.