Desalento entre os jovens

Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2011 e 2018, ocorreram 339.730 lesões autoprovocadas

Por: Da Redação  -  29/09/19  -  11:12
Atualizado em 29/09/19 - 11:21

Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2011 e 2018, ocorreram 339.730 lesões autoprovocadas, que incluem agressões à própria pessoa, automutilações e suicídios. Um aspecto grave dessas ocorrências é que elas se concentraram entre jovens, na faixa de 15 a 29 anos, com 45,4% do total. E o problema tem crescido: em oito anos, eles passaram de 14.940 casos, em 2011, para 95.061 em 2018.


Especialistas alertam que esses números estão subestimados, uma vez que muitas ocorrências não são notificadas. Nesse sentido, o governo federal sancionou lei, no final de abril, que cria o Plano Nacional de Prevenção à Automutilação e ao Suicídio, tornando obrigatória a notificação dessas ocorrências (os chamados “cortes”) pelas escolas públicas e privadas do País, sendo elas encaminhadas aos conselhos tutelares para ações e providências.


Não há dados seguros sobre a automutilação de jovens no País, mas é certo que ela vem aumentando de modo alarmante. Esse é um fenômeno mundial: estudo de pesquisadores da Universidade de Portland, nos Estados Unidos, com 64.671 estudantes com idade entre 11 e 14 anos, mostrou que 17,6% dos entrevistados haviam cometido pelo menos um ato de mutilação no ano anterior ao levantamento.


A autolesão, segundo especialistas, é mais comum na faixa etária entre 14 e 18 anos, e entre meninas. Os cortes são uma forma de alívio para o sofrimento psíquico, e a dor física se sobrepõe e substitui a dor emocional. Sobre as razões que levam os jovens a cometer esses atos, há consenso: eles estão ligados a várias causas, com influência de fatores biológicos, genéticos, ambientais (entre os quais, os socioeconômicos), além de vulnerabilidades provocadas pela violência, conflitos familiares, ou mesmo doenças crônicas incapacitantes.


Há, porém, fortes indícios que a tecnologia, em especial a internet e as redes sociais, potencializa esses efeitos. O uso excessivo dessas mídias leva à maior propensão para quadros depressivos, e um trabalho científico apontou que as chances de diagnóstico de depressão ou ansiedade dobram em jovens que passam sete horas ou mais por dia diante das telas de smartphones, notebooks ou computadores. Outro ponto apontado é a proliferação de conteúdos na web sobre suicídios e automutilações, que inclui lições sobre como praticá-los.


Não se trata de atribuir às redes sociais a responsabilidade pelo problema. A questão é de assistência e saúde pública, e precisa ainda envolver as famílias e a sociedade em geral. A solução passa pela difusão de informações de qualidade sobre o tema, que deve ser feita de maneira ampla, pelos governos, em programas para essa finalidade, e nas escolas e universidades. Essas ações são fundamentais, notadamente no Setembro Amarelo, e devem prosseguir de modo regular e contínuo.


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