Crédito durante a pandemia
Desde dezembro há uma interminável discussão se o auxílio e o programa de crédito para empresas vão retornar
O pacote do Governo do Estado para socorrer empresas, principalmente bares, restaurantes e negócios do turismo, vem em boa hora, mas com efeitos reduzidos. São linhas de crédito, suspensão de protestos de débitos da Dívida Ativa e manutenção do abastecimento de gás e água. A ajuda é um paliativo porque o baque desses segmentos é muito maior devido às restrições ao funcionamento a que periodicamente são impostos, mas também há o efeito do isolamento social voluntário. Ainda que muitas pessoas mantenham a frequência sob medidas de segurança sanitária, há uma parcela que prefere não se arriscar. Assim, os empreendimentos funcionam sob capacidade ociosa, com queda de faturamento e pouco espaço para pagar impostos, salários e despesas com aluguel. Nesse contexto, aumenta a importância do setor público dar o devido suporte à sobrevivência do empreendedorismo. Tem sido dessa maneira nas principais economias, sendo a Alemanha talvez o maior exemplo, com programas de auxílio que devem durar até uma década.
Entretanto, há o jeito brasileiro de lidar com seus grandes problemas, que é postergar soluções e não planejar. Quando há um desastre da natureza e algo imprevisível como a pandemia, configura-se uma tempestade perfeita. Mesmo antes da covid-19 começar a fechar empresas e destruir empregos, União, estados e prefeituras já estavam com as finanças abaladas. Assim como no início da disseminação do coronavírus e do isolamento social, a ficha demorou a cair para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que queria pagar um auxílio emergencial raquítico que pouco depois foi ampliado pelo Congresso, o imobilismo está de volta. Desde dezembro há uma interminável discussão se o auxílio e o Pronampe, programa de crédito para empresas, vão retornar. Enquanto isso, o vírus se espalha até a um nível mais elevado em algumas regiões. Também há uma articulação maior entre esses segmentos econômicos para pressionar os governos, o que com certeza fez o governador João Dória rever as regras sanitárias e liberar o pacote emergencial para o comércio.
No ano passado, o Pronampe financiou meio milhão de empresas e o governo conseguiu acertar de forma inédita - os bancos aceitaram emprestar para um tomador de alto risco de calote. Em uma iniciativa louvável, os recursos do Tesouro foram usados como garantia. Em caso de inadimplência, o valor tem cobertura do Tesouro. Como no Brasil até o que dá certo é descontinuado, agora se discute a criação de cooperativas ou outras instituições privadas para assumir a função de garantia. Se isso der certo, não deverá ser na urgência que a circunstância atual exige.
A pandemia é arrasadora, mas pelo menos expõe às claras problemas antigos das pequenas empresas, que é a falta de crédito. Também impõe soluções inovadoras para impedir a morte das empresas. Mas a ineficiência e lentidão do governo e das instituições, que se arrastam, cedo ou tarde voltam a se manifestar.