Coronavírus e ação do governo

Governo já admite que, neste ano, déficit primário será superior a R$ 350 bilhões, ou seja, 4,5% do PIB, o pior da história

Por: Da Redação  -  03/04/20  -  19:06

É consenso que a atuação do governo será decisiva para o enfrentamento da crise do coronavírus. As medidas na área da saúde - aumento do número de leitos hospitalares e de UTIs, bem como de ventiladores mecânicos e principalmente a aquisição de kits que permitam a realização de testes em milhares de pessoas diariamente - são absolutamente cruciais no atual momento.


Mas há grande preocupação em relação à economia. Com a paralisação das atividades e o confinamento social, muitas pessoas, especialmente informais, ficaram e sem renda alguma, enquanto empresas deixaram de produzir, vender ou prestar serviços, enfrentando enormes dificuldades desde já, e que devem se prolongar - e aprofundar - nos próximos meses.


Várias consultorias vêm estudando possibilidades para este ano. Uma delas, a Roland Berger, traçou três cenários para a economia brasileira em 2020: no primeiro, as medidas de contenção do vírus surtem efeito, é mais restrito o número de cidades em quarentena e o impacto da atividade externa é mais suave, fazendo com que o PIB cresça entre zero e 1%.


Tal perspectiva é bastante otimista, entretanto: mais realista será provavelmente considerar que as dificuldades para conter a epidemia levarão ao aumento rápido dos casos, com extensão das quarentenas, gerando gargalos nas cadeias produtivas e fechamento temporário de fábricas. Nela, o PIB ficaria entre queda entre 0,9% e avanço de 0,1%. 


Não se descarta, porém, a recessão profunda, com descontrole do combate à Covid-19, falência de empresas e desemprego generalizado, com as políticas fiscal e monetária não dando conta de conter os estragos: assim, o PIB cairia de 1% a 2%. É muito difícil, a essa altura, concluir qual dos cenários é mais provável. É certo, entretanto, que as medidas para garantir a liquidez e o emprego devem exigir esforços da ordem de 10% a 15% do PIB nacional, entre R$ 700 bilhões e R$ 1 trilhão. 


O governo já admite que, neste ano, o déficit primário (considerando Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) será superior a R$ 350 bilhões, ou seja, 4,5% do PIB, o pior da história. A meta era de R$ 124,1 bilhões, mas a decretação do estado de calamidade pública deu liberdade para seu descumprimento. Estados e municípios terão déficits também, estimados em R$ 30 bilhões no total, fazendo com que o déficit consolidado se aproxime de R$ 400 bilhões. Em 2019, ele foi de R$ 61 bilhões, 0,9% do PIB.


Não há alternativa. Trata-se de situação emergencial que precisa ser enfrentada com todos os recursos possíveis. O maior rombo da história justifica-se para salvar vidas e preservar empresas e empregos, e o desafio será, passada a crise, retomar o ajuste fiscal, que continua dependendo de reformas estruturais, que precisarão voltar à agenda política nacional. 


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