Britânicos em apuros

O Brexit significa aos britânicos perder acesso a alimentos europeus mais baratos e fazer seus produtos chegarem mais caros à União Europeia

Por: Da Redação  -  28/07/19  -  20:36

O Brexit, divórcio do Reino Unido com a União Europeia (UE), previsto para 31 de outubro, dependerá da eficiência do novo premiê Boris Johnson. Ele poderá buscar um acordo que amenize o impacto da saída ou, como já disse, optar pelo brusco rompimento. Essa segunda possibilidade pode até favorecer o Brasil. O Brexit significa aos britânicos perder acesso a alimentos europeus mais baratos (28% deles vêm da área continental) e fazer seus produtos chegarem mais caros à UE. Isso porque o livre-comércio elimina taxas de importação. Metade da produção excedente de veículos do Reino Unido atravessa o Canal da Mancha com zero de imposto. Com o Brexit, subirá para 10%. Os demais produtos industrializados pagarão percentuais por volta disso. Um automóvel inglês, ao chegar ao mercado espanhol, terá mais imposto que o concorrente italiano ou tcheco, ambos sem tributo por pertencerem à UE. O reflexo será vender menos e ter aumento de inflação (os produtos continentais pagarão imposto para entrar no Reino Unido). Economistas já consideram a possibilidade de uma recessão mais violenta que a de 2008, até prolongada, se o governo não investir em mecanismos para suavizá-la, como financiar o consumo, endividando-se.


O Reino Unido também teme o encolhimento de seu mercado financeiro, que se tornou um gigante que presta serviços a toda a Europa. A City londrina teve a vantagem de se tornar uma espécie de ponte entre Estados Unidos e a Ásia. A segurança jurídica e a estabilidade trouxe aos longo das décadas muitos capitais ao País. Agora, pode perder seu vigor com a colocação de uma barreira entre a ilha e o continente.


No âmbito comercial, Johnson pode acelerar acordos bilaterais para abrir mercados, em compensação ao Europeu continental a ser fechado. A abertura britânica seria excelente ao agronegócio brasileiro para conter eventual aumento dos preços dos alimentos e consequentemente da inflação. Como se trata de uma economia desenvolvida, diversificada, com mão de obra capacitada e associada ao capital americano, o Brasil teria muito a conviver com eles.


A maior incógnita é Johnson, populista demagogo, mas que não é outsider como Donald Trump. Tem carreira política sólida e percebeu a insatisfação das massas com as lideranças partidárias convencionais e tensões com a imigração. Sua principal jogada foi empurrar o país para fora da UE e agora os britânicos olham para ele e dizem: “a ideia foi sua, nos tire dessa”. Johnson terá muita oposição entre seus próprios pares, os conservadores. Pesa a favor dele ter sido prefeito bem avaliado em Londres. Não é inexperiente como muitas lideranças da direita que se multiplicaram pelo mundo. Se diferencia de Trump e Jair Bolsonaro por ser próximo da militância ambiental e LGBT. Nos final das contas, sua sobrevivência dependerá do desempenho da economia no curto e médio prazos.


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