Blefes da política

Doria fez um movimento pirotécnico no jogo político, com consequências ainda indefinidas na corrida presidencial 

Por: Redação  -  01/04/22  -  06:23
Ex-governador articulou um movimento pirotécnico e de grande repercussão na política nacional
Ex-governador articulou um movimento pirotécnico e de grande repercussão na política nacional   Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP

Por mais que se acompanhe o universo da política, as movimentações partidárias e os discursos dos que ocupam e dos que querem ocupar cargos públicos, é sempre possível ser surpreendido por fatos inusitados, inesperados, curiosos e até bizarros. João Doria conseguiu reescrever, ontem, em letras garrafais, o velho mantra de que política é mesmo como as nuvens, estão sempre em movimento.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Sem que nenhum analista político tivesse antecipado, o agora ex-governador articulou um movimento pirotécnico e de grande repercussão na política nacional, que certamente vai ficar marcado por muitos anos ainda. Depois de anunciar, para poucos e na calada da noite de quarta-feira, que desistiria de concorrer à Presidência e permaneceria à frente do Governo do Estado, João Doria virou protagonista de uma cena política que, a seis meses das eleições gerais, parece estar apenas rascunhada.


Durante toda a quinta-feira, especulações e análises sobre essa decisão jogaram gasolina na corrida presidencial e também ao Governo do Estado que, até quarta-feira, estava com o nome consolidado dentro do PSDB: Rodrigo Garcia, que mudou do DEM para o ninho tucano, foi chancelado como pré-candidato ao Governo e contava com o holofote que o Palácio dos Bandeirantes lhe proporcionaria para chegar forte às urnas. Ao pretensamente manter-se como governador e abrir mão da candidatura à Presidência, João Doria rompia o acordo feito com o partido e com seu próprio vice, que chegou a anunciar a saída do Governo diante de tamanho revés. A temperatura só arrefeceu dentro do partido e no xadrez político no final da tarde, quando João Doria se despediu do Governo, disse que “levará para o Brasil a boa gestão que fez em São Paulo” e anunciou Rodrigo Garcia como seu sucessor a partir de agora.


O nome do ex-governador ainda não decolou na corrida presidencial, não passa de 3% nas intenções de votos, apesar de números relativamente bons de seu governo. Além disso, um movimento interno do partido, liderado por Aécio Neves e outros caciques, tentavam desidratar sua candidatura para, na sequência, sugerir outro nome nas convenções de julho. O blefe de Doria foi arriscado, mas surtiu algum efeito: uma carta pública de apoio do presidente do PSDB, Bruno Araújo, e o holofote de toda a imprensa nacional por quase 24 horas. O movimento não garante, porém, que seu nome vá ascender nas pesquisas daqui para frente, mas ele terá a oportunidade de percorrer o Brasil, nos próximos três meses, corrigindo rotas, exibindo seus números e sem a sombra do não-apoio do partido.


No discursos de quase 40 minutos que fez ontem, durante sua despedida, uma frase marcou: “Não quero ficar na numerada ou na arquibancada. Quero descer para o campo”. A partir de agora, são os brasileiros que ficarão na arquibancada, assistindo cada minuto dessa partida ainda sem favoritos ao título.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna