Balanço e perspectivas
2020 terá grandes desafios pela frente
2019 foi um ano de profundas mudanças na política brasileira. Jair Bolsonaro iniciou seu mandato cercado de grande expectativa diante do discurso de campanha e da virada ideológica anunciada, marcados pela postura liberal na economia e na inflexão conservadora nos costumes. Isso, de fato, aconteceu. O Ministério da Economia, liderado por Paulo Guedes, foi o destaque, tendo avançado na reforma da Previdência Social, aprovada pelo Congresso Nacional, acompanhada por ações na infraestrutura, com êxito em vários leilões em áreas estratégicas, como portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.
Logo no início do governo, foram apontadas três áreas distintas (e até certo ponto conflitantes entre si): uma considerada mais racional e técnica, cujos expoentes eram Guedes, Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, e Sergio Moro, da Justiça; outra mais ideológica e extremada, representada pelos filhos do presidente e pelos ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, Damares Alves, da pasta da Mulher, Famíliae Direitos Humanos, e pelos da Educação (Ricardo Vélez Rodríguez, e depois Abraham Weintraub); e, finalmente, os militares.
Passado um ano, pode-se dizer que Paulo Guedes segue firme, mas Moro sofreu vários desgastes sucessivos, especialmente quanto a seu pacote anticrime, aprovado pelo Congresso, mas bastante desidratado. A área ideológica sofreu muitas críticas – especialmente os filhos do presidente, culminando com as denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio de Janeiro, e Weintraub, cotado para ser substituído em 2020. Destaque-se que Damares Alves, após um início tumultuado, retraiu-se e adotou postura mais discreta, o que não aconteceu com Ernesto Araújo e Ricardo Salles. Os militares também tiveram papel declinante – o vice-presidente Hamilton Mourão saiu de cena, estrategicamente, e houve afastamentos importantes, como o do general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência.
Não há dúvida que o Brasil vive um período de estabilidade política e econômica. Não foi afetado pelas convulsões sociais que afligiram a América Latina em 2019 e os resultados econômicos são importantes: baixa inflação, juros em queda, alta significativa da Bolsa de Valores, crescimento retomado, especialmente no segundo semestre. O PIB deve avançar pouco no ano, ficando ao redor de 1%, o mesmo resultado de 2016, 2017 e 2018, mas as perspectivas são bem maiores para 2020, quando o crescimento deve atingir 2,5%. A confiança foi retomada tanto entre empresários como consumidores, e os efeitos têm sido notados.
O desemprego ainda é grave problema. O próprio secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, admite que a geração de postos de trabalho no País será lenta e gradual, e que somente em 2022 ela cairá para um dígito, chegando a 9,5%, ainda um nível alto, a afligir milhões de trabalhadores excluídos do mercado formal.
2020 terá grandes desafios pela frente. O Congresso terá que se debruçar sobre importantes projetos – a PEC emergencial, a PEC da Revisão de Fundos e do Pacto Federativo - que foram encaminhados pelo governo no final de 2019, além de analisar e decidir sobre a Reforma Administrativa e a Reforma Tributária, dois temas centrais para a definição estrutural do Estado brasileiro.
Tudo isso acontecerá em um ano de eleições, com a escolha de novos prefeitos e vereadores em todo o País. Não haverá novidades especiais neste pleito – as regras não foram alteradas e, felizmente, o Fundo Eleitoral não foi aumentado, como muitos congressistas defendiam, para R$ 3,8 bilhões – embora se discutam bastante dois aspectos importantes: a forma de realizar as campanhas e a influência das grandes questões nacionais na decisão dos eleitores.
O peso das redes e mídias sociais tem sido crescente na política, com alguns sérios problemas, como a difusão acentuada das fake news. Por outro lado, é discutível que temas que tiveram forte influência na eleição presidencial venham a decidir os pleitos municipais, principalmente nas pequenas cidades. De maneira geral, os eleitores são pragmáticos, e a escolha dos administradores segue essa lógica, muito mais do que o apoio de líderes nacionais ou motivações ideológicas, embora isso não signifique a despolitização das disputas. Elas seguem, entretanto, outra dinâmica, peculiar aos municípios.
Na Baixada Santista, há prudência e expectativa dos candidatos que aguardam o momento mais adequado e propício para lançar-se ao eleitorado. Em seis municípios - Bertioga, Cubatão, Guarujá, Mongaguá, Peruíbe e São Vicente - os atuais prefeitos concorrerão à reeleição e têm destacado suas realizações e feitos na atual gestão, como demonstram recentes entrevistas com vários deles em A Tribuna.
Em Itanhaém, Praia Grande e Santos, o cenário é distinto: os prefeitos, que completam o segundo mandato, não poderão concorrer novamente, mas lançarão nomes para sucedê-los. A transferência do prestígio e a identificação do apoio não são, porém, mecânicos e automáticos, e exigirão grande esforço de comunicação e convencimento para surtir efeito.
Espera-se, de qualquer maneira, que as campanhas possam trazer ideias inovadoras para os municípios da região. O mais importante é apresentar propostas para o desenvolvimento econômico, capazes de trazer empregos e renda. Nesse sentido, destaque-se que, em 2019, houve importantes manifestações da sociedade, como o movimento Inova Baixada Santista e a proposta de criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Santos, que devem prosseguir e influenciar no futuro da região.