Até onde Putin pode chegar?
Episódio mais triste da humanidade em muitas décadas já foi mais longe do que qualquer motivação poderia sustentar
Para decepção geral, a invasão russa à Ucrânia, classificada por Vladimir Putin “como operação militar especial”, continua em andamento. E em mais uma tentativa de tentar minar os esforços invasores, a Assembleia Geral das Nações Unidas suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos. A proposta, aprovada a com 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções – entre elas, a do Brasil –, foi apresentada pelos Estados Unidos diante das hostilidades atribuídas a forças russas na Ucrânia, em especial na cidade de Bucha. Segundo relatos, pouco mais de 400 corpos com sinais de execução foram encontrados na cidade ocupada por tropas russas, o que caracterizaria um crime de guerra típico da atuação dos nazistas na Segunda Guerra. A Rússia negou as acusações da Ucrânia.
Seja como for, o fato é que o episódio mais triste da humanidade em muitas décadas já foi mais longe do que qualquer motivação ideológica ou política poderia sustentar. Ainda que a Rússia tenha razão em uma ou outra alegação, nada pode justificar uma invasão seguida de tantas mortes e destruição como já se vê há mais de um mês.
A intolerância de Putin com a Ucrânia e sua intenção de se aproximar do Ocidente não vem de hoje. Nem seu inconformismo com o fim da União Soviética. Contudo, para não parecer que faz o que faz sem motivo justo, ele fala em “desnazificação” do país vizinho e em intromissão branca dos Estados Unidos, seus principais antagonistas, que seriam os mentores da livre iniciativa ucraniana em relação a rumos sociais e políticos.
À frente de um dos principais arsenais de guerra do planeta, capazes de provocar estragos inimagináveis no mundo todo, Vladimir Putin parece não se abalar com as sanções impostas por países e organismos internacionais. A suspensão do Conselho de Direitos Humanos foi a última, mas outras tantas já foram colocadas em prática, as mais pesadas na seara econômica, que certamente vão prejudicar muito a vida do cidadão russo que é obrigado a sofrer calado, sob pena de ser preso caso conteste as ações de seus governantes.
O governo russo já deu sinais, ainda que enviesados, de que poderia chegar a um entendimento e encerrar o ataque. Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, também já se mostrou disposto, mais de uma vez, a aceitar determinadas condições para retomar a paz. O que falta, então? Talvez, a percepção de Putin de que não há como sair vitorioso de um conflito iniciado e protagonizado por ele de forma tão cruel e desumana. Ao final dos ataques, ainda que o número de baixas do exército inimigo supere em muito as perdas de seus combatentes, o presidente russo será o grande perdedor, com entrada garantida na galeria dos tiranos mais radicais. Pior para a população russa, que por muito tempo vai ter de lidar com o peso da inconsequência de um líder disposto a tudo para impor sua visão de mundo.