As tragédias nos morros se repetem

Sem trabalho de longo prazo e com tão poucos recursos, as mortes vão se repetir, talvez em escala maior no futuro

Por: Redação  -  02/02/22  -  06:06
Deslizamentos na Grande SP são semelhantes à tragédia na Baixada Santista em março de 2020
Deslizamentos na Grande SP são semelhantes à tragédia na Baixada Santista em março de 2020   Foto: Orlando Júnior/Estadão Conteúdo

As 24 mortes no fim de semana, a maioria em encostas de regiões empobrecidas da Grande São Paulo, são resultado de uma tragédia que se repete e que poderia ser evitada se houvesse um trabalho de longo prazo tocado pelos governos das três esferas - municipais, estaduais e federal. O drama da Região Metropolitana de São Paulo é muito parecido com o que ocorreu em Santos, Guarujá e São Vicente em 3 de março de 2020, quando 43 moradores e dois bombeiros morreram após chuvas intensas. Infelizmente são casos que devem se multiplicar com tempestades cada vez mais agressivas, que os climatologistas associam ao aquecimento do clima. Mas as perdas de vidas nos morros não são uma novidade deste século e está muito relacionada à incapacidade dos programas habitacionais atenderem as camadas mais pobres. Também faltam mecanismos de alerta e evacuação de uma forma que é muito comum em países com furacões e terremotos.


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No fim dos anos 2000, o Governo Lula lançou o Minha Casa, Minha Vida, programa habitacional com faixas conforme a renda da família. O subsídio do governo, com boa parte da parcela paga pela União, aumentava conforme o nível de pobreza. No papel, a ideia era bem delineada, mas ao longo do tempo, até o Governo Dilma Rousseff e na atual administração, a falta de recursos federais foi minando as verbas da base mais pobre até que finalmente os subsídios minguaram. No fim das contas, apenas as famílias, ainda que consideradas pobres, mas com capacidade de pagamento, continuaram sendo atendidas. Portanto, voltou-se ao Brasil de sempre, com programas sociais que mudam de nome a cada década para receber o carimbo do governo da ocasião, mas que não encerram as mazelas do País.


O resultado real são famílias pobres, de vários níveis de renda, que se amontoam nos morros das grandes e médias cidades numa situação que a cada ano se torna explosiva à medida que tempestades despejam uma quantidade cada vez maior de águas em uma só região e em curto período de tempo. O grande problema é que o planejamento e a disciplina não são o forte dos governos. A cada enxurrada, mortes são lamentadas, a solidariedade une a sociedade e soluções são discutidas. Entretanto, no próximo verão, as tragédias se repetem, apesar de serem previsíveis as chuvas torrenciais nessa época.


A classe política precisa dar respostas à sociedade nesse campo. Os programas habitacionais têm que ser mais audaciosos e previstos para atender esse público específico durante décadas para desocupar as encostas de desmatamentos ou de terrenos naturalmente instáveis, como os das proximidades da Mata Atlântica. Também é necessário investir em grandes programas de infraestrutura para melhorar a drenagem e acelerar o escoamento nas cidades tomadas pelo asfalto. Sem um trabalho de longo prazo e com tão poucos recursos, as mortes vão se repetir, talvez em escala maior, nos próximos anos.


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