Apoio maciço à Lava Jato
Pesquisa do Instituto Datafolha realizada no início deste mês mostrou que a população brasileira apoia, de modo resoluto, a Operação Lava Jato, símbolo maior do combate à corrupção no país
Atualizado em 15/12/19 - 11:42
Pesquisa do Instituto Datafolha realizada no início deste mês mostrou que a população brasileira apoia, de modo resoluto, a Operação Lava Jato, símbolo maior do combate à corrupção no país. 81% dos entrevistados consideram que ela ainda não cumpriu seus objetivos e deve continuar, com apenas 15% dizendo que a Lava Jato já cumpriu seu objetivo e deveria acabar.
A variação em relação a abril de 2018 foi pequena, não obstante as revelações das conversas no aplicativo Telegram entre procuradores e o ex-juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Pública do presidente Jair Bolsonaro, ocorridas ao longo deste ano.
Naquela oportunidade, 84% dos entrevistados responderam que a Operação não cumprira ainda seus objetivos e deveria continuar, e 12% opinando que ela precisaria terminar. Não há dúvida, portanto, que a imensa maioria da população continua preocupada com o tema, mas boa parte dela é cética em relação ao futuro: mesmo com a ação da Lava Jato, 47% consideram que a corrupção continuará na mesma proporção de sempre e 10% que ela vai aumentar.
Essas opiniões estão ligadas a alguns retrocessos que a Operação sofreu neste ano, como a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a prisão em segunda instância, que permitiu a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de anulações de sentenças do juiz Moro e a reversão de prisões preventivas decretadas contra políticos e empresários.
Embora o apoio maior à Lava Jato esteja entre os mais ricos (89%), os que têm Ensino Superior (87%), homens (85%) e moradores da região Sul (85%), nota-se que, em todos os grupos socioeconômicos e regionais, prevalece, com larga margem, a opinião favorável ao combate à corrupção, que continua tema de importância nacional, capaz de influir bastante em eleições futuras.
Não surpreende que Sergio Moro seja o ministro mais bem avaliado do governo. Segundo o Datafolha, ele tem 53% de opiniões ótimo e bom e apenas 21% de ruim e péssimo, contra 30% de aprovação (somado ótimo e bom) do presidente Jair Bolsonaro, o que o torna figura importante nas próximas eleições presidenciais, sendo desde já cotado para figurar como candidato a vice-presidente na chapa governista.
É positivo que haja forte e decidida reação às práticas de corrupção no país, historicamente consolidadas. O tema vai continuar na pauta política, a exigir posições e atitudes dos governantes e da classe política. Isso não deve, entretanto, constituir apenas retórica ou discurso de campanha. Precisa atingir todos os níveis, e constituir nova mentalidade no Brasil, deixando claro que o jeitinho e a malandragem, exaltados na esfera privada, são também formas de corrupção, com forte consequência no desrespeito à coisa pública.