Ao cidadão, mais incerteza

Falta de liderança e decisões desencontradas beneficiam apenas um lado, o do vírus. Eis aí o grande vencedor

Por: Da Redação  -  05/06/20  -  12:25

Em meio à falta de sintonia entre governos federal e estaduais e municípios sobre o que fazer frente à pandemia do novo coronavírus, mais precisamente em relação à retomada da economia, merece ser observado o recado que se passa ao cidadão comum. Enquanto as autoridades médicas e o bom senso ainda recomendam o fique em casa, afinal o País agora registra mais de mil mortes diárias pela Covid-19, os gestores públicos não se entendem sobre a ideal medida em relação ao funcionamento dos comércios. É verdade, que o impacto do vírus se dá em intensidade diferenciada pelo País. De forma mais moderada no Centro-Oeste, em partes da Região Sul e em Minas Gerais, e agressivamente nas grandes metrópoles e avançando para as cidades médias ou menores contíguas. Por isso, não dá para haver batida de martelo central sobre as restrições, o que exige claramente um entendimento no âmbito estadual e com calibragem por regiões. 


Está claro que falta harmonia entre os responsáveis pela reação frente à pandemia, lembrando que o Judiciário cada vez mais toma decisões contrárias à retomada em cidades espalhadas pelos vários cantos do País. Prefeitos sinalizam que se rebelarão perante o Governo do Estado, reabrindo comércios e outros serviços. Há sim uma pressão muito grande da sociedade pela manutenção dos empregos e da retomada dos negócios, mas o momento é de grande responsabilidade. Haverá estrutura suficiente para suportar uma corrida de novos infectados ou doentes graves ao sistema local de saúde? E mais, há a possibilidade de regiões ou cidades vizinhas terem que assumir demanda que não foi gerada por decisões de seu poder local?


Retomando a questão inicial, assim, qual recado se passa à população? Primeiro, de que a socialização já é viável, apesar da contaminação ainda estar nas ruas. Mas, em que nível pode se dar essa interação social? Com muitas, médias ou poucas restrições? Não se sabe claramente - pelo menos essa é a percepção que se tem. No final das contas, o recado que se passa ao cidadão é de insegurança. Com tanta incerteza, há o medo de consumir e tomar outras decisões econômicas, desde o medo de ficar doente até o do desemprego. 


Não se deve esquecer que o período de restrições está perto de completar três meses. Um período parecido com o da Itália, que sofreu reveses, recuando de decisões precipitadas, mas com reabertura quando houve certeza de queda da curva da contaminação. No Brasil, decisões desencontradas e falta de liderança clara, e isso não tem como não ser atribuído ao Ministério da Saúde, beneficiam apenas um lado, o do novo coronavírus. Eis aí o grande vencedor nesse momento de desunião entre os entes públicos. Não há espaço para erros e jeitinhos e de empurrar com a barriga, algo que pode ser estimulado pela eleição que se aproxima. A única saída depende do entendimento. Sem isso, virão fracasso e perda de mais vidas. 


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