Alerta no Porto de Santos

Existem questões estruturais preocupantes, e a maior delas é a maior competição entre portos nacionais

Por: Da Redação  -  02/10/19  -  12:18

O volume de cargas movimentadas no Porto de Santos em agosto atingiu 12,1 milhões de toneladas, 3,8% abaixo do registrado no mesmo mês de 2018. No acumulado do ano, nota-se também decréscimo: 88,4 milhões de toneladas, contra 88,8 milhões no mesmo período de 2018. Os números mostram que há possibilidade de queda na movimentação de mercadorias no Porto neste ano. 


Destaque-se o bom desempenho em 2017 e 2018 (129,9 milhões e 133,2 milhões de toneladas), refletindo crescimento expressivo em relação aos níveis do início da década (96,0 e 97,2 milhões de toneladas em 2010 e 2011, respectivamente), que representou avanço superior a 30%.


Os bons resultados estiveram ligados à exportação de commodities - açúcar, milho e soja representam, juntos, cerca de 50% do total exportado pelo Porto. Merece, portanto, atenção a queda ocorrida em agosto dos embarques de soja - 29,7% - e de açúcar - 6,2%. Embora o milho tenha tido crescimento expressivo (34,2%), com 2,9 milhões de toneladas exportadas, isso não foi suficiente para garantir saldo positivo.


Nota-se também que caíram 1,4% as atracações em janeiro-agosto de 2019, quando comparadas com igual período de 2018. Caíram as atracações de navios de longo curso (1%) e da cabotagem (5,5%). Outro ponto que deve ser destacado é queda da movimentação acumulada de contêineres em 2019, que foi 3,3% inferior à ocorrida nos oito primeiros meses de 2018. 


Há problemas: de um lado, a movimentação de commodities agrícolas e minerais apresenta variações sazonais, e refletem questões internacionais, como o crescimento da produção em determinados países ou a menor demanda de outros, como acontece com a China, a maior importadora de grãos no mundo.


Mas existem questões estruturais preocupantes, e a maior delas é a maior competição entre portos nacionais. Os usuários do Porto de Santos vêm notando constante fuga de cargas para complexos portuários da região Norte, que se intensificarão com a ferrovia Norte-Sul, que facilita o escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste. Além disso, Paranaguá vem batendo recordes com a operação dessas commodities, e o porto de Itapoá, em Santa Catarina, que se tornou um hub (concentrador de cargas), vem atraindo a movimentação de contêineres.


A concorrência não deve ser temida. Ela é positiva, porque cria desafios e impõe ações de melhoria. Em Santos, é preciso investir em logística e infraestrutura, garantindo o acesso às instalações portuárias locais, e ao mesmo tempo viabilizar, no menor prazo possível, a transformação do complexo em hub port, além de ampliar a movimentação de contêineres, que transportam cargas de maior valor agregado, reduzindo a dependência das commodities, sujeitas a variações ao longo do tempo. 


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