A ponderação é o caminho

Se Bolsonaro tem profundas diferenças com ministros do STF, que retome o canal de negociação que Fux oferecia há pouco

Por: Redação  -  07/08/21  -  07:34
 Enquanto Bolsonaro conduz sua principal bandeira política, contra a urna eletrônica, paralelamente se discute no Parlamento o essencial tema da reforma do Imposto de Renda
Enquanto Bolsonaro conduz sua principal bandeira política, contra a urna eletrônica, paralelamente se discute no Parlamento o essencial tema da reforma do Imposto de Renda   Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A derrota da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135, que torna obrigatório o voto impresso, por 23 a 11 votos, na quinta-feira, na comissão especial da Câmara, já era esperada – assim como se diz nos bastidores da casa que dificilmente a PEC passará pelo plenário se o presidente Arthur Lira (PP-AL) decidir colocá-la em votação. O presidente Jair Bolsonaro não conseguiu convencer além de seus seguidores sobre as fraudes que atribui ao sistema das urnas eletrônicas e o máximo que tem atingido é gerar instabilidade na república e ofuscar seu próprio governo. Enquanto ele conduz sua principal bandeira política, contra a urna eletrônica, paralelamente se discute no Parlamento o essencial tema da reforma do Imposto de Renda. Do próprio lado do governo, a equipe econômica costura fundos para transformar o Bolsa Família em um Auxílio Brasil mais robusto. São assuntos que se entrelaçam, pois envolvem contas públicas e, no caso do projeto do IR, choque de interesses entre partes influentes da sociedade. Portanto, vão exigir uma plena negociação na base do governo nas duas casas legislativas.


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Desta forma, espera-se que o novo chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, mostre a experiência atribuída a ele após tanto tempo na política e com passagens por governos de orientações ideológicas contrárias, e consiga trazer o governo para a normalidade ou para um relacionamento civilizado com os outros poderes. A ponderação é o melhor caminho e a condição para a equipe econômica e os ministros do Executivo transitarem pelos demais poderes para tratar dos assuntos mais urgentes para os brasileiros: acelerar a vacinação e derrotar a covid-19 e segurar a inflação e reduzir o desemprego.


Por mais que o temperamento do presidente aponte para altas temperaturas na Praça dos Três Poderes, o Palácio do Planalto detém aliados no comando das duas casas do Legislativo, uma condição excepcional em um regime multipartidário com legendas de baixa qualidade política. A ameaça à realização de eleições no próximo ano é inadmissível e merece repúdio. Se Bolsonaro tem profundas diferenças com ministros do Supremo – ele atribui a Luís Roberto Barroso intromissão no Legislativo para derrubar o projeto do voto impresso – que retome o canal de negociação que o presidente da Corte, Luiz Fux, oferecia há pouco para discutir a relação entre os poderes. Sob quaisquer aspectos, o regime democrático não admite a imposição das vontades do Executivo ou de qualquer outro lado.


O mercado financeiro, onde o governo tem muitos apoiadores, é um termômetro importante para observar de fora o impacto da tensão política no País. O retrato que se revela é de um grande desconforto e uma dificuldade para entender o rumo da nação daqui até as eleições, com reflexo no câmbio e temores de algum colapso fiscal. A recuperação no pós-pandemia está à vista, mas a guerra política pode colocar tudo a perder.


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