A pobreza na pandemia

A pobreza aumentou em 24 das 27 unidades da federação, inclusive em quase todos estados onde o agro é setor dominante

Por: Redação  -  27/08/21  -  06:45
  Foto: Unsplash

Os efeitos da pandemia não deixam dúvidas que a covid-19 empobreceu o País, considerando o desemprego, negócios fechados e mortes dos que sustentavam suas famílias. O estudo do economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), divulgado pelo jornal Valor na quarta-feira, mostra que o impacto para o empobrecimento dos brasileiros foi bem acentuado. Duque se baseou nos parâmetros da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e da Pnad Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e também na classificação de pobreza do Banco Mundial, de renda per capita de R$ 450 por mês.


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Com esse corte, a pobreza aumentou em 24 das 27 unidades da federação, inclusive em quase todos estados onde o agronegócio é o setor dominante (Tocantins foi exceção, com queda da pobreza). O total de pobres também avançou nas grandes metrópoles devido a uma participação mais ampla dos serviços, setor mais atingido pelas restrições sanitárias, como comércio, entretenimento e turismo. Porém, no período em que houve pagamento de auxílio emergencial ou seu valor foi mais elevado, o empobrecimento teve queda mais intensa. Essa revelação da pesquisa indica a importância das políticas de transferência de renda para combater a pobreza. A dificuldade do governo de encontrar fundos para transformar o Bolsa Família em Auxílio Brasil, ampliando o repasse médio mensal dos atuais R$ 190 para R$ 300, está associada às limitações do caixa federal e a uma incapacidade de estabelecer prioridades e combater desperdícios, sobrando recursos aos vulneráveis.


O impacto eleitoral é inegável, mas esses programas devem ser tocados como iniciativas de Estado e não de governo. Hoje, a equipe econômica busca costuras para tirar o Auxílio Brasil do papel, a ponto de atrair aprovação à atual gestão no próximo ano, mas fica a dúvida se haverá verba suficiente em 2023 ou 2024, por exemplo. Basta observar que a previsão do gasto com precatórios (pagamentos do governo com sentença judicial definitiva) em 2022, de R$ 90 bilhões e não de R$ 58 bilhões, como se esperava, praticamente anula a capacidade federal de investimento daqui para frente.


De acordo com o estudo de Daniel Duque, a parcela da população paulista pobre aumentou de 13,8% em 2019 para 19,7% neste ano. Se no estado mais rico do País o percentual é tão elevado, a situação é muito ruim nas outras unidades da federação. Em Minas Gerais, são 23,5%, saltando para 42,9% na Bahia e 55,95% no Amapá, o pior desempenho. Mas transferir renda não é o único caminho. É preciso dispor de uma cesta de benefícios em educação, com capacitação profissional, e saúde para os mais pobres. Os melhores métodos para o resgate social já são conhecidos – falta aprimorá-los para dar robustez na qualidade de vida de todos os brasileiros.


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