A ópera, resumida

Preocupa que a retomada econômica se dê sob o pico da pandemia, mas quem precisa teve pouca ajuda de governos

Por: Da Redação  -  20/04/21  -  07:21
    Tanto a Baixada quanto outras localidades que se agarram à busca por uma normalidade ainda distante correm risco
Tanto a Baixada quanto outras localidades que se agarram à busca por uma normalidade ainda distante correm risco   Foto: Pixabay

De forma alguma pode-se imputar a quem vive de seu trabalho a responsabilidade pelo vaivém da covid-19. Comerciantes foram autorizados a reabrir, sob regras mais flexíveis em parte da Baixada Santista do que em outras regiões do Estado, e respiram: ainda que vendam abaixo do pré-pandemia, não ficarão mais tempo sem faturar e poderão manter empregos — ou demitir menos do que esperariam.


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A retomada do funcionamento de pontos como lojas, bares, restaurantes, academias e igrejas, contudo, tem menos de científica do que de medo do sufocamento econômico, tanto dos setores cuja atuação foi restrita quanto dos governos de todos os níveis, com receita menor.


Em um país que ainda surfa a mais alta das ondas de letalidade do coronavírus, a ponto de, nas últimas semanas, registrar uma em cada quatro mortes pela doença no mundo, não há explicação capaz de convencer infectologistas de que este seja um bom momento sanitário. É, por sinal, ainda mais perigoso do que em reaberturas anteriores, quando o vírus era menos infeccioso e mortal.


No entanto, as tétricas reações do Governo Federal ao sofrimento coletivo; as ações insuficientes de governos estaduais; os temores de prefeituras colapsadas em saúde e dinheiro; e a politicagem do Congresso sobre tudo isso praticamente inviabilizam o “ficar em casa”.


Brasília chega ao ponto de nem sequer ter um Orçamento digno do nome, pois precisará ser retalhado para atender o que precisa o povo, e não só os autores de bilhões em emendas parlamentares voltadas para suas bases eleitorais. Nesse impasse, o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) não passa de uma reiterada e não cumprida promessa governamental. O auxílio emergencial, mais curto e esquálido, permitirá a milhões que dele dependem se segurar por menos tempo.


Deputados e senadores, em conjunto, seriam muito úteis se apresentassem saídas que ajudassem o Governo a agir, em vez de torná-lo ainda menos viável. Neste momento, porém, tentam cercá-lo com o arrastado desenrolar de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para apurar o óbvio: a responsabilidade federal pela vagareza na vacinação e pelo desestímulo a medidas básicas e vitais de higiene e distanciamento social.


O resumo desta ópera desafinada é que tanto a Baixada quanto outras localidades que se agarram à busca por uma normalidade ainda distante correm risco. O ponto de partida regional nesta nova reabertura tem oito em cada dez leitos de UTI para covid-19 ocupados e a mais elevada média móvel semanal de mortes desde o começo do que se está vivendo: 32 por dia, no período de 7 a 13 deste mês.


Ainda que a vacinação avance, é recomendável preparo para o que pode decorrer da atual liberação de atividades — um pleito justo, que seria bem mais saudável se, em todas as esferas, tivesse havido discurso e ação pela vida por inteiro, muito além do aspecto econômico.


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