A inflação no front brasileiro

Ainda não está claro se a guerra, assim como suas sanções econômicas, terão um efeito curto ou demorado

Por: Redação  -  12/03/22  -  07:11
O aumento nos combustíveis vai impactar no IPCA, que pode chegar a 8% este ano
O aumento nos combustíveis vai impactar no IPCA, que pode chegar a 8% este ano   Foto: Matheus Tagé/AT

Os efeitos mais angustiantes dos aumentos de preços adotados pela Petrobras ontem, além do aperto imediato no bolso dos motoristas, são disseminar uma inflação na economia. Segundo analistas, o reajuste da estatal de 18,7% na gasolina, de 24,9% no diesel e de 16% no botijão de gás contribuirá para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar entre 7,5% e 8% neste ano. Esse percentual está abaixo dos 10% do IPCA de 2021, mas isso não é uma boa notícia.


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Como a taxa Selic deu um salto para 10,75% anuais, esses juros já tão elevados levavam os analistas do mercado ouvidos pelo Banco Central a acreditar que o IPCA fecharia 2022 em 5,65%. Com o patamar esticado para a faixa entre 7,5% a 8%, podem ser necessários juros mais altos ainda para debelar esse nível inflacionário.


Ainda não está claro se a guerra, assim como suas sanções econômicas, terão um efeito curto ou demorado. Sob incertezas, retoma-se o velho costume do brasileiro de tentar repassar uma inflação maior que a atual até para se proteger. Para matar essa memória inflacionária, o BC costuma carregar na Selic. Por isso, os mais pessimistas afirmam que a taxa básica poderá ser esticada até 16%.


Antes da guerra, a Selic era esperada no máximo entre 12% e 12,5%, com possibilidade de começar a recuar antes de junho. Agora, todo esse esforço que o País faz para enfrentar a inflação precisa ser recalculado. Se no patamar anterior alguns bancos esperavam que a economia brasileira ficaria no zero a zero neste ano ou recuaria 0,5%, daqui para frente, com Selic mais alta ainda e commodities (produtos minerais e agrícolas negociados em bolsa) valorizadas, pode vir uma recessão.


O cenário não é dos melhores, pois há uma tensão extra com a eleição. O Governo Bolsonaro tem sinalizado mais gastos públicos e reduções de impostos para agradar redutos eleitorais, enquanto o líder das pesquisas, o ex-presidente Lula, também não se apresenta com o discurso da austeridade.


Mas algum equilíbrio pode vir com a surpresa do ano, que é a queda do dólar. Desde o começo de 2021, os juros salgados atraem investidores estrangeiros. Tudo indica que isso vai persistir pelo Brasil ser uma alternativa à Rússia. A esperada subida das taxas pelo banco central americano para segurar a inflação nos Estados Unidos é uma possibilidade de devolver a força ao dólar, mas com a crise da Ucrânia, economistas acham que os BCs devem evitar agitar os mercados neste semestre.


Espera-se que essa expectativa de inflação se revele fruto da tensão que uma situação de guerra impõe e, quem sabe, ocorra algum tipo de arrefecimento. No curto prazo, pode até haver algum alívio com a redução de impostos sobre os combustíveis, mas se o petróleo permanecer em patamares elevados por muito tempo, esses artifícios terão efeito limitado, ainda mais se forem guiados unicamente pelo viés eleitoral, como se nota agora.


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