A inflação da guerra na mesa do brasileiro

Os fatores são externos, mas respostas sérias precisam ser tomadas dentro do País

Por: Redação  -  02/04/22  -  06:37
Brasileiro começa a sentir o cerco do custo da invasão da Ucrânia pela Rússia
Brasileiro começa a sentir o cerco do custo da invasão da Ucrânia pela Rússia   Foto: Unsplash

Aos poucos, o brasileiro começa a sentir o cerco do custo da invasão da Ucrânia pela Rússia. O impacto mais evidente é o do petróleo. Apesar do produto russo não ter sofrido sanções, só a possibilidade de uma oferta menor do que a demanda em plena retomada das economias gera uma tensão nos preços. Mesmo com o tipo Brent abaixo dos US$ 120 o barril desde o dia 28, sua cotação permanece 36% maior do que em 31 de dezembro. É uma diferença muito grande em período tão curto.


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Entretanto, o trigo, que tem tanto a Ucrânia como a Rússia como grandes produtores, também já demonstra estresse com a guerra – neste mês, já subiu 37% no mercado futuro de Nova Iorque. Em 12 meses, o salto foi de 71%. Segundo uma pesquisa do Sindicato dos Proprietários de Padarias de Santos e Região (Sinaspan), publicada na edição de quinta-feira de A Tribuna, o ataque de Moscou à Ucrânia já deixou o quilo do pão francês entre R$ 1 e R$ 2 mais caro na Baixada Santista. O caso dessa commodity alimentícia preocupa porque é o insumo de produtos baratos para o brasileiro, como pão e massas. Além disso, seu custo pesa na balança comercial. O Brasil, devido às condições climáticas, importa 60% das suas necessidades. Pelo menos, os fornecedores são mais seguros – Argentina e Canadá. Mesmo assim, o Brasil fica exposto aos preços mais altos, pois se trata de commodity (o preço é internacional e definido em bolsa de mercadorias).


Se o impacto na alimentação preocupa, o dos combustíveis é arriscadíssimo, pois dissemina aumento de preços para os custos de quase todos os setores da economia, lembrando que o Brasil tem seu sistema de transportes baseado em rodovias, causando muita dependência do petróleo. Se o peso da gasolina no bolso da classe média tira o sono do Palácio do Planalto, o do gás de cozinha gera empobrecimento de fato. Como o gasto com botijão e alimentos consome uma proporção maior do salário da baixa renda do que o das faixas superiores, é óbvio que a inflação desses produtos vai corroer mais rapidamente o poder de compra dos pobres. Essa situação é de desfecho trágico, pois expulsa do orçamento dessas famílias consumos da educação, da saúde e do lazer.


Infelizmente, com uma eleição se aproximando, o enfrentamento da inflação, que foi formada na pandemia por interrupção das cadeias de produção e injeção gigantesca de recursos públicos para destravar a economia, é planejado com base nas urnas. Medidas pontuais e desonerações são anunciadas a cada dia em meio a pressões sobre a Petrobras que mais funcionam como um esforço do governo para mostrar ao eleitorado que está agindo pela queda dos preços.


Porém, a inflação, por ser resistente, cedo ou tarde acabará por engolir eventual ganho de margem dos combustíveis ou dos produtos industrializados. Os fatores são externos, mas respostas sérias precisam ser tomadas dentro do País.


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