A inflação atropela os governos

Na América Latina, os danos são maiores devido à pobreza e ao uso de fórmulas fracassadas desde os anos de 1980

Por: Redação  -  05/07/22  -  06:21
A inflação tem causado estragos em vários países do mundo
A inflação tem causado estragos em vários países do mundo   Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Não só no Brasil, a inflação também faz estragos na popularidade de outros governos na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa. Entre os latino-americanos, os danos são maiores devido ao empobrecimento e à insistência de usar fórmulas fracassadas desde os anos 1980, como represar preços na base da canetada ou dar subsídios. No fim das contas, o que funcionou foi reduzir os gastos e aumentar os juros, mas produzindo muitas vezes recessão.


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Essa forma enxuga o dinheiro em circulação, abatendo o consumo, porém, dificultando remarcações nos supermercados. Hoje, com as redes sociais, com as quais as pressões do eleitorado são praticamente em tempo real, programas econômicos austeros podem ter efeito devastador nas urnas para o governo.


O embrião da inflação em escala planetária está na ação dos governos para combater os efeitos econômicos da covid-19, com o despejo de alguns trilhões de dólares para estimular o consumo. Por outro lado, as cadeias de produção, fechadas no começo da pandemia, ainda não voltaram à normalidade. Com a reabertura simultânea das economias, houve uma forte pressão sobre as commodities. Neste último caso foi bom e ruim para o Brasil. Do lado positivo, o País é um exportador desses produtos, beneficiando-se duplamente pelo dólar valorizado. A parte negativa é a inflação, lembrando também que a população não consegue ser beneficiada por essa entrada de dólares e mal consegue achar emprego.


A inflação neste ano teve como empurrão a guerra da Ucrânia (esse país mais a Rússia também produzem commodities e desabasteceram os mercados de trigo, fertilizantes e petróleo). Mas parte do problema da subida dos preços, desde 2020, está no seu enfrentamento pelos bancos centrais (do Brasil, EUA, Europeu, Japão e até o da China, entre outros). Os BCs seguraram por muito tempo as taxas de juros em níveis baixos como forma de não desacelerar a economia.


Quando os preços começaram a subir, o discurso foi de que a alta estava concentrada em alguns itens de consumo e serviços e que isso seria temporário. Entretanto, os aumentos se disseminaram por meio dos combustíveis. No Brasil, a contaminação foi muito mais rápida e abrangente porque o País tem mecanismos de reajustes embutidos nos contratos que realimentam a inflação. Como o aluguel, que sobe automaticamente por um indexador (IGP-M ou IPCA) mesmo que o segmento de locação esteja em baixa em uma região específica.


A fórmula que os governos têm adotado é apelar ao populismo, com redução de impostos e aplicação de subsídios. Quem mais tem sucesso nesse campo é a Bolívia, que conseguiu segurar a inflação. Entretanto, isso injeta muitos recursos na economia, ampliando o déficit público e estimulando o consumo, adiando o equilíbrio dos preços, o que o Brasil já fez nos tempos de Dilma Rousseff, só para ficar na história recente.


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