A guerra da segunda dose

De nada adianta os estados anunciarem novas datas de vacinação e o Ministério não ter vacinas suficientes

Por: Redação  -  20/08/21  -  07:22
 Vacinação contra a covid-19
Vacinação contra a covid-19   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A decisão do Ministério da Saúde de reduzir o intervalo da aplicação entre a primeira e a segunda dose da vacina da Pfizer contra o novo coronavírus, de três meses para 21 dias, é da maior importância para combater a ascendente disseminação da variante Delta. A medida passa a valer em setembro, mês apontado por especialistas por uma possível disparada dos casos transmitidos pela cepa, que já está em estágio avançado no Rio de Janeiro. De acordo com levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) naquele estado, dos exames com sequenciamento genético, 56,6% dos resultados positivos estão relacionados à Delta. Além disso, o Estado do Rio atingiu, desde o começo da pandemia, o maior patamar do número de maiores de 80 anos internados, com 848 por semana, segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Como trabalhos científicos indicam que apenas a primeira dose das vacinas é pouco eficaz contra a variante Delta, a antecipação da segunda aplicação se torna estratégica neste momento.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


No caso do Estado de São Paulo, a decisão do ministro Marcelo Queiroga de abreviar o intervalo das duas doses pouco mudará, pois o Governo Doria segue a indicação da bula do imunizante, que permite uma espera de 30 dias entre as duas aplicações.


Entretanto, percebe-se uma falta de sintonia entre os governos Estadual e Federal em relação às vacinas, indicando uma contínua briga política. No mesmo dia em que Queiroga anunciou a redução do tempo de espera entre as duas doses, o governador João Doria cobrou mais vacinas para dar conta da segunda imunização adiantada. O mais apropriado seria as duas partes discutirem, no caso paulista, a necessidade de acelerar a imunização e, da parte do Governo Federal, mostrar a sua real disponibilidade de vacinas.


Se por um lado a variante Delta impõe uma incrível e abrupta demanda por vacinas, o Ministério precisa demonstrar uma máxima eficiência na obtenção dos imunizantes e na logística de distribuição, revelando a sua real capacidade de cumprir suas metas e atender a população da forma mais rápida possível. A disputa política é previsível e a confrontação de ideias, saudável para levar a melhor qualidade dos serviços à sociedade. Mas a rivalidade não pode interromper os canais de comunicação ou causar qualquer prejuízo à saúde dos brasileiros.


A Delta é um problema mundial que está provocando a volta de medidas restritivas em países que já estavam com a vacinação mais adiantada. Portanto, o planejamento é fundamental neste momento. É preciso que o Ministério assuma publicamente a disponibilidade dos imunizantes para acelerar a aplicação da segunda dose e, quem sabe, garantir a terceira.


De nada adianta os estados anunciarem novas datas de vacinação e o Ministério não ter vacinas suficientes, por isso a necessidade de manter um diálogo constante.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna