A dúvida do crescimento

Por trás do ânimo do governo, está um contexto econômico mais robusto, mas que pode não se sustentar

Por: Redação  -  05/06/22  -  07:15
PIB brasileiro teve crescimento de 1% no primeiro trimestre do ano
PIB brasileiro teve crescimento de 1% no primeiro trimestre do ano   Foto: Reprodução

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) , no primeiro trimestre, de 1% em relação ao período de outubro a dezembro é uma notícia animadora e comemorada pelo governo. Entretanto, há muitas dúvidas em relação ao segundo semestre, quando a subida dos juros passará a ter reflexos na economia, se a taxa Selic mais elevada domará a inflação e se os países ricos ganharão fôlego, ao contrário do que o momento indica. No Brasil, a expansão é praticamente reflexo de uma demanda reprimida. O País está uma etapa atrás em relação ao Hemisfério Norte, considerando a recuperação quanto à covid-19.


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Tanto é que o motor do avanço do PIB do Brasil foram os serviços, com a retomada do movimento de bares, restaurantes, hotéis e atividades de lazer. A demanda internacional por commodities (produtos minerais e agrícolas com preços definidos nas bolsas internacionais) beneficiou as exportações, mas, no campo, a seca causou muitas perdas no verão – no primeiro trimestre, o agronegócio recuou 0,9%.


Por trás dos números positivos e do ânimo do governo, está um contexto econômico mais robusto: arrecadação de impostos em expansão, exportações em um bom ritmo, importações fortes e geração de empregos formais e informais em alta, apesar de uma inflação elevada há um bom tempo. Mas esse quadro pode não se sustentar no próximo semestre. A economia brasileira costuma ser puxada pelo consumo das famílias; no entanto, o desemprego recua vagarosamente e continua assustador (10,5% da força de trabalho ou mais de 11 milhões de desempregados), o endividamento supera os 70%, o que reduz a capacidade de retomar as compras ou investir, e os juros elevados desestimulam o investimento e o crédito para os mais variados fins econômicos.


Ainda há o impacto externo, com a continuidade das cadeias de produção mundiais desajustadas devido à covid-19 e a China adotando restrições regionais em busca de zerar a transmissão do vírus. Também é esperado que os países ricos que adotaram a subida de juros para segurar a inflação, como os Estados Unidos, passem a crescer menos, a estagnar ou até entrar em recessão. Há algumas economias que resistem em aumentar suas taxas básicas para não gerar desemprego e haver impactos eleitorais; porém, sem uma reação das autoridades monetárias locais, a inflação seguirá em alta destruindo o fôlego da produção e do consumo.


No caso brasileiro, é preciso aguardar efeitos de medidas recentes tomadas pelo governo para reanimar a economia e o que ainda deve ser feito por questões eleitorais. A principal iniciativa seria implantar um subsídio aos preços dos combustíveis. A subida da arrecadação, na visão do Palácio do Planalto e do Centrão, daria a sustentação financeira a essa alternativa, mas a expansão da receita é reflexo da inflação. Se ela for controlada e a economia não crescer rapidamente, a próxima gestão terá sérios problemas de caixa.


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