A dosagem da escassez hídrica

O plano está subordinado à volta abundante das chuvas e o ideal seria trabalhar com uma margem de segurança

Por: Redação  -  02/09/21  -  06:34
  Foto: Imagem Ilustrativa/Pixabay

O plano do governo para combater a crise hídrica e impedir um racionamento com severos impactos na economia é tão complexo que dependerá de uma gestão ímpar para atingir seus objetivos. O centro da estratégia é derrubar o consumo por meio do aumento de preço e, a quem colaborar, a contrapartida da redução da conta de luz. A mudança que mais pesa no bolso é o aumento da bandeira tarifária em quase 50%, uma taxa que é cobrada a cada 100 kWh registrados – esse percentual levará a um reajuste global médio de 7% no gasto mensal com energia.


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A média do consumo por família está abaixo de 200 kWh ao mês, mas esse sistema tarifário não é muito democrático. Residências com um número maior de pessoas sofrerão com a bandeira multiplicada, enquanto solteiros que não economizam dificilmente ou pouco serão atingidos por esse cálculo.


O principal desafio com a nova bandeira tarifária é que ela, segundo especialistas consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo, não cobrirá os custos do acionamento das usinas térmicas para poupar as hidrelétricas, que é estimado em R$ 13 bilhões. Essa taxa extra, agora de R$ 14,20 a cada 100 kWh, deveria ter subido para R$ 25,00, conforme os analistas. Esse rombo de R$ 10,00 ficará para o próximo ano, portanto, um efeito retardado sobre as contas de luz, além dos preços mais salgados que serão pagos agora. O risco é de que, se as chuvas do verão não forem suficientes para recompor os reservatórios das hidrelétricas, o País terá duas crises e não apenas uma. A primeira é recessiva devido ao dinheiro gasto que poderia ir para o comércio, para pagar impostos ou para investir na atividade produtiva. A segunda é a continuidade do risco energético se o clima não colaborar, notando-se um efeito de bola de neve que não se sabe como e quando seria debelado.


O outro destaque desse plano energético é a premiação de quem reduzir o seu consumo entre 10% e 20%, garantindo desconto de R$ 0,50 a cada 1 kWh economizado. Como o caixa federal está vazio e não há como subsidiar um programa dessa dimensão, o Ministério das Minas e Energia aumentou a conta para o próprio consumidor financiar a bonificação. O problema dessa vantagem às avessas é que ela nada garante a quem economizar abaixo de 10% (quando o consumidor notar que ficará abaixo de 10%, não terá motivo para colaborar no restante do mês) ou acima de 20% (este sim, um herói), mas que receberia um prêmio muito elevado se fosse proporcionalmente descontado. Já aquele que desperdiçar energia não sofrerá qualquer punição, ao contrário do que determinava o programa de racionamento do Governo FHC.


Fica a torcida para que a previsão dos especialistas não se cumpra e que a dosagem do programa esteja realmente adequada à necessidade do momento. O plano está subordinado à volta abundante das chuvas e o ideal seria trabalhar com uma margem de segurança.


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