A conta da energia

Com essa espécie de colchão formado por pequenas usinas, o governo espera amenizar os efeitos da crise hídrica

Por: Redação  -  01/07/21  -  09:41
 É possível que a Anee reajuste de novo a bandeira vermelha patamar 2 para desestimular o consumo
É possível que a Anee reajuste de novo a bandeira vermelha patamar 2 para desestimular o consumo   Foto: Bran Sodre/Unsplash

Se o regime de chuvas continuar como agora, é possível que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), assim como fez na terça-feira, reajuste de novo a bandeira vermelha patamar 2 – taxa agora de R$ 9,49 cobrada a cada 100 mW para desestimular o consumo. Portanto, fica o risco do duplo impacto: da possibilidade de restrições de oferta de energia desestimularem os investimentos em um momento de potencial retomada da economia e da conta de luz mais cara retroalimentar a inflação. O pior quadro, o do racionamento, é descartado pelo governo, talvez preocupado com implicações de popularidade. Se não há necessidade dessa medida extrema, que se adote um plano mais incisivo na economia de energia e água para reduzir a queda dos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu em cadeia de rádio e TV colaboração da população. Trata-se de uma questão de conscientização. Entretanto, os riscos para um País de dimensões continentais não podem depender de possíveis mudanças de comportamento. Em momentos difíceis, os sinais do governo, bem estruturados e transparentes, são fundamentais para a confiança, estimulando o giro da economia.


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Pelo menos o governo já editou uma MP com um conjunto de ferramentas para preservar a matriz hídrica. É o caso da flexibilização para contratar energia de pequenas hidrelétricas, no caso de regiões com melhor índice de chuvas, e das termelétricas. Estas últimas têm a desvantagem, em sua maioria, de serem abastecidas com diesel, o que amplia a poluição. Na Baixada Santista, há o caso da usina instalada dentro da Refinaria de Cubatão, que é movida a gás natural, de menor dano ao meio ambiente. A Petrobras participou de leilões do sistema elétrico nacional e vai ser remunerada pelo excedente de energia de sua usina.


Com essa espécie de colchão formado por pequenas usinas, o governo espera amenizar os efeitos da crise hídrica. Não é nada fácil, considerando que as hidrelétricas fornecem 61% da energia usada no País. O problema está centrado na Bacia do Rio Paraná. A pior situação é verificada no reservatório de Marimbondo, na divisa de São Paulo com o Triângulo Mineiro, onde o nível das águas está abaixo de 10%. Portanto, uma outra medida do governo é restringir o uso desses lagos pelo turismo e agricultura, o que ajuda a entender o impacto econômico da crise hídrica mesmo antes de algum racionamento.


O País já passou por um complexo racionamento em 2001, quase experimentou outro em 2015 e desde então os reservatórios enfrentam sérias dificuldades para serem abastecidos. Conclui-se que o Brasil não aprendeu nessa área – aliás, abusou do improviso e da sorte. A solução pode ser ampliar as responsabilidades da Aneel com a finalidade de impor uma série de investimentos e operações que visem o uso sustentável das fontes energéticas e a expansão de novas matrizes.


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