A ameaça continua. Cuide-se
Não faltaram alertas por parte dos epidemiologistas que acompanham a progressão dessa doença há 14 meses
A confirmação pelo boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz, de que houve aumento de incidência dos casos da doença e da ocupação dos leitos e de UTI em 17 estados e o Distrito Federal, significa um novo baque, ainda que previsível, no País – tanto no aspecto da perda de vidas como do enfraquecimento da economia. Deve-se notar também que os dados pioraram na Baixada Santista e que o Governo do Estado optou por adiar a frouxidão das restrições para os próximos 14 dias. O estudo epidemiológico da Fiocruz é bem claro. Ele afirma que a média diária de mortes vai se situar em um patamar elevadíssimo, de 2,2 mil por dia. Mas infelizmente há possibilidade de piora se a contaminação continuar e os hospitais ficarem cada vez mais lotados. Conforme estudo recente, na crise de abril, de cada quatro pacientes intubados no País, um chegou a óbito, o que é assustador. O Brasil está perto de repetir a trágica experiência dos sistemas de saúde público e privado lotados, ficando a dúvida sobre a intensidade desta vez, se poderá chegar ao colapso de novo.
Espera-se que esta preocupação seja excesso de zelo e que o pior não se configure, mas é preciso admitir que não faltaram alertas por parte dos epidemiologistas e profissionais de saúde que acompanham a progressão da doença há 14 meses. Eles avisaram que, mesmo após a queda da incidência da covid-19 nas últimas semanas, as estatísticas permaneceram em platô elevado e que a sociedade persistiu com as condições para as infecções, como transporte público lotado, muitas festas clandestinas e multidões em praias e vias públicas. Também é preciso registrar que o presidente Jair Bolsonaro liderou aglomerações eleitoreiras irresponsáveis, além de sinalizar que vai se utilizar de decreto para frustrar futuras medidas restritivas por parte de prefeitos e governadores.
Por outro lado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se revelou mais do mesmo, apenas com a diferença que faz uma defesa mais veemente das vacinas e que busca melhorar a oferta de imunizantes. Apesar dos negacionistas e dos descuidados, observa-se que há cuidado geral com uso de máscara, entre outras medidas de proteção individual. Entretanto, ainda falta uma liderança de peso nacional para servir de exemplo e ser condutora de uma caminhada contra a doença.
Agora, teme-se também o efeito dessa escalada das contaminações e internações sobre a economia. Mesmo que as restrições não se avolumem, a desconfiança no futuro já está semeada. Este boletim da Fiocruz foi divulgado na semana seguinte à revisão de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá não apenas 2% ou 3%, mas talvez 4%. Será que a partir de agora essa expectativa positiva vai ser frustrada? Já é quase na metade do ano e nenhum fôlego mais contundente foi notado. Os dados da saúde foram um banho de água fria e os governos devem admitir que não agiram com firmeza para evitá-los.