Quem vai morrer
Novo ministro da Saúde assustou bastante os mais velhos quando expôs a sua escolha fúnebre
Em meados da década de 1990, a tecnocracia neoliberal de todo o mundo reclamava sobre o encarecimento dos seguros sociais. Complicando o sistema de repartição – as contribuições dos trabalhadores em atividade garantem os benefícios dos aposentados – o trabalhador passou a ter menos filhos, em vez de algo entre dez ou quinze, no máximo dois.
Mas o pior mesmo, é que antigamente, depois de aposentado, o segurado morria logo, e agora, teima de seguir vivo por muito tempo. Como a vida não pode ser uma piada, o correto seria cobrar o necessário encarecimento do seguro social de quem tem mais. Alguma coisa assim como imposto sobre grandes fortunas, tributação sobre o sistema financeiro. Afinal, a verdadeira solidariedade é a que a lei determina.
Uma das coisas que a pandemia causa mundialmente é a exposição das condições sociais de cada país. Com toda a violência neoliberal, o Brasil vai sentir bastante os desmontes aplicados, no SUS desde o golpe de 2016, e no INSS desde 1995. A desigualdade social muito aprofundada nos últimos tempos será muito evidente nas próximas semanas, com o vírus alcançando as periferias.
Com o nosso sistema de saúde atingindo o colapso, será vergonhoso ter que escolher quem vai morrer, e o pior de tudo é o ministro antecipando qual seria a sua opção. Pode até ser que o susto aumente a aceitação da quarentena por parte dos “velhinhos”.
Vencida a pandemia, com certeza o mundo não será o mesmo. O colunista vem apostando que alterações serão positivas, com todos os choques e contradições, mas reduzindo substancialmente as desigualdades sociais. E, mesmo otimista, não se fia em “bondade humana”; mas sim em inteligência e ciência.