Isso também vai passar

A grave pandemia de covid-19 desnudou as políticas neoliberais recessivas dos últimos 30 anos

Por: Sergio Pardal Freudenthal  -  01/08/22  -  06:17
A pandemia expõe de forma escancarada a desigualdade social
A pandemia expõe de forma escancarada a desigualdade social   Foto: Reprodução

Diz a lenda que um monarca antigo, consultando sábios e cientistas, encontrou a frase para responder aos problemas de seus súditos: “Isso também vai passar”. Quando meus netos se assustam pelo que acontece em todo o mundo, guerras, doenças e ataques à democracia, desigualdade social e carestia, o avô, com muita esperança, repete: “Isso também vai passar”.


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O fim da Segunda Guerra Mundial, após tantas dores, fez avançar as conquistas sociais, o Estado do Bem-Estar Social ampliou o conhecimento e equiparou os direitos políticos, econômicos e sociais. Agora, a grave pandemia de covid-19 desnudou as políticas neoliberais recessivas dos últimos 30 anos. Como tantos outros países, o Brasil foi desindustrializado e sofreu grave redução nas garantias para os que mais precisam, pela decomposição das relações entre capital e trabalho, com resultados vergonhosos.


Em resposta à peste, a solidariedade social, inclusive internacional, tem que ser organizada. A sua efetiva existência depende da disposição nas leis e tratados. Urge recompor o Direito Social em todo o mundo, inclusive em nosso Brasil. E, se os ricos devem pagar impostos para a distribuição de riquezas e a redução nas desigualdades sociais, os países mais bem afortunados também devem dividir seu conhecimento, ciência e vacinas. Na legislação pátria ou em acordos e tratados internacionais, a Solidariedade tem que estar escrita e permanentemente renovada.


Quando ela se apresenta travestida em armas, engorda o bucho das indústrias bélicas, derrubando sangue de todos os povos e cada vez mais dificultando a recuperação econômica exigida pela covid-19, ainda presente. Enriquecendo os fabricantes de armas, atiradores estadunidenses continuam matando indiscriminadamente e de forma vil e covarde. E no nosso pobre Brasil, em operações policiais ou atos individuais, os que têm armas fazem mau uso delas.


Em pouco tempo, o mundo inteiro terá muito do que se envergonhar; desde as guerras fomentadas até as pouquíssimas respostas às doenças e à miséria. A defesa do Estado Democrático de Direito é obrigação de qualquer cidadão; e isso passa pela reação ao fascismo e pela defesa de um mundo mais justo, sem fome e sem miséria.


Os fascistas apostam na ignorância, defendem a universidade para poucos e a falsa felicidade de não saber. Fomentam o medo, o medo do desconhecido, daquilo que ignoram. E, para responder ao temor, pregam a violência, a violência contra o que lhes causa medo, violência covarde, armada ou em grupo. Lembram muito o atual desgoverno federal e seus seguidores.


Isso também vai passar, e certamente, se, daqui a uns 40 anos, Caetano, atualmente com 13, e Leona, com 7, encontrarem essas linhas em algum lugar, vão exclamar: “Ufa! O vovô tinha razão! Passamos da metade do século 21 e a sociedade avançou, a desigualdade social foi substancialmente reduzida, o mapa da fome não existe mais em todo o mundo e a tolerância em todas as formas é corriqueira”. E vão se lembrar que essa esperança deu muito trabalho.


A esperança responde com amor, acolhimento, Ciência, conhecimento, livros. A covid-19 não acabou e outras doenças ameaçam a humanidade; muitos democratas iludidos defendem a guerra e os armamentos, sem nem dar atenção aos fatos; mais de 30 milhões de brasileiros estão passando fome e o atual governante ameaça o processo eleitoral com propostas golpistas. Mesmo assim, meus netos certamente comemorarão um novo mundo, com paz, Ciência e civilização. Mesmo que o avô não consiga ver o serviço completo, detalhado acima. Afinal, isso também vai passar.


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