Consulte quem entende. Chame o agente

Marcelo Nery é presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar)

Por: Marcelo Nery  -  28/05/22  -  06:24
  Foto: Pixabay

O mais antigo barco recuperado no mundo é a canoa de Pesse, uma canoa de tronco escavado de Pinus sylvestris, construída entre 8200 e 7600 a.C. Esta canoa está exibida no Museu Drents, na cidade holandesa de Assen. As jornadas de barcos primitivos como estes foram então se repetindo muitas vezes, através dos séculos, até que, em um determinado estágio, dois ou mais troncos foram presos juntos para formar uma balsa. Um tronco foi escavado para formar um barco mais elaborado e remos foram inventados para que houvesse uma sustentação disto.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Mais tarde, as velas foram introduzidas – as primeiras ilustrações de veleiros são do Egito, e remontam a cerca de 5.000 a.C. - e os marinheiros começaram a se aventurar dos rios para o mar. Provavelmente, os primeiros a fazê-lo foram os pescadores, que descobriram que havia mais peixes no mar do que em qualquer rio. Outros foram em busca de novas terras e povos diferentes com os quais pudessem negociar. Foi mais ou menos neste período dos primórdios da história dos fenícios e dos gregos, quando os comandantes ou donos das embarcações precisavam de apoio para resolver situações e aportar, que a profissão do agente marítimo já se fazia necessária. Este profissional que atua nos portos do Brasil e do mundo, de atividade muito específica e técnica, pouco conhecido e talvez menos valorizado do que deveria.


Mas quem é este essencial profissional da cadeia da logística portuária e do comércio exterior? Nenhum navio adentra, atraca, opera e sai do porto sem a atuação do agente marítimo. Os armadores e afretadores dos navios não podem estar presentes em todos os portos do Brasil e do mundo em que seus navios atracam, zelando por todos os seus contratos negociados.


É aí que entra o importante trabalho deste profissional, que apesar de ter 23 de junho como seu dia nacional, promulgado pela Lei 11.791, de 2 de outubro de 2008, ainda é desconhecido por muitas pessoas. O agente marítimo – atividade altamente qualificada, elo imprescindível que conhece das legislações de cada porto, papel catalizador técnico entre os navios e os diversos atores no porto e na cadeia logística – atende também todas as demandas perante todas as autoridades locais antes, durante e, muitas vezes, até após as saídas dos navios dos portos. Nos dias de hoje, com sistemas on-line como o Porto Sem Papel (PSP), todo o cuidado e zelo que as empresas de agenciamento devem prezar pela alta capacitação de seus colaboradores em treinamentos nestes nossos dias se faz primordial.


Existem agências marítimas, inclusive centenárias, que empregam tecnologia de ponta e que não podem cometer enganos, pois além de serem multadas pelas autoridades em somas que muitas vezes são desproporcionais e estão aquém de seu potencial financeiro, também carregam a responsabilidade de operar com cifras altíssimas, pois lidam com navios cujo contratos geram riscos nos portos de somas vultuosas. O agente marítimo, então, tem a responsabilidade de observar detalhes que muitas vezes acarretam falhas de navios ficarem parados nos portos, desencadeando um dominó de gargalos em toda cadeia logística de suprimentos. Por estas razões, a atividade é pautada na relação de confiança total, já que os armadores e afretadores necessitam acreditar na competência e qualidade dos serviços dos seus agentes.


Um exemplo de tarefa do agente marítimo para qualificar a atracação e operações de um navio de longo curso é a emissão da livre prática por meio do PSP. Isto se faz crucial para que saibamos a saúde dos tripulantes e as condições sanitárias dos navios estrangeiros. É o agente marítimo que serve de interlocutor entre autoridades e o navio, que marca a praticagem e rebocadores com toda a tecnicalidade das marés e restrições de canal e berços que obtém, que serve de papel catalizador entre terminais, exportadores, importadores, tradings, armadores, afretadores, despachantes, dentre outros. Finalmente, com uma visão mais futurista, aglutina e trabalha um vasto conteúdo de dados sobre as cargas, projetos, restrições e previsões portuárias, estruturas e rotas logísticas, custos nos portos, projeções de chegada, atracação e saída, produção de documentos, legislações e análises técnicas, o agente marítimo pode se transformar, passando de um agente que puramente atende aos navios, a um agente que não somente atende aos navios, mas serve a todo o mercado como consultor.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna