Na boca do povo

A discussão enseja uma diquinha de português

Por: Dad Squarisi  -  29/05/22  -  15:36
-
-   Foto: A Tribuna

Recado
“Quem muito fala muito erra e muito enfada.”
Dito popular


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios


O ICMS está nas manchetes. A Câmara dos Deputados fixou o teto de 17% para a cobrança do imposto. Os governadores, que administram o tributo, estão em pé de guerra. É que muitos estados perderão receita. A discussão enseja uma diquinha de português. Impostos, taxas, contribuições se grafam com a letra inicial maiúscula: Imposto de Renda (IR), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Taxa do Lixo.


Na origem
Você paga imposto com prazer? Não. Pagamos tributos porque somos obrigados. Alguns vêm descontados na fonte, outros embutidos no preço da mercadoria. A origem do nome diz tudo. Imposto nasceu do latim impositu. Quer dizer realizado à força, sem consentimento.


Polêmica
A CNN publicou na telinha a frase: “Papa pede rígido controle de armas após ataque a escola no Texas”. Francisco se manifestou ao saber que um jovem americano invadiu um colégio e matou 19 alunos e duas professoras. Telespectadores atentos se preocuparam com a crase ou a falta de crase na declaração do papa – ataque a escola do Texas.


Ocorre crase? Não ocorre? Faça sua aposta. Escolheu não? Acertou. Para comprovar, basta substituir a palavra feminina por uma masculina. Se no troca-troca der ao, sinal de casamento de preposição mais artigo. Caso contrário, nada de acento: Papa pede rígido controle de armas após ataque a colégio do Texas.


Trata-se de uma entre tantas escolas do Texas. Sem especificação, nada de acento. Compare com: Papa pede rígido controle de armas após ataque à Escola Robb Elementary no Texas.


Aplicando o truque do trota-troca: Papa pede rígido controle de armas após ataque ao Colégio Robb Elementary no Texas.


Mais exemplos
Vou à cidade. Vou ao clube.
É fiel à namorada. É fiel ao namorado.
Obedeceu à chefe. Obedeceu ao regimento.
Dirigiu-se à escola onde estuda. Dirigiu-se ao parque.


Que diferença
O amor bate à porta
E tudo é festa.
O amor bate a porta
E nada resta.
(Cineas Santos)


Bolsonaro
“É inaceitável pagar subsídios aos estados”, disse Bolsonaro em entrevista. Pronunciou “subzídio”. Nada feito. O s de subsídio soa como o s de subsolo.


Por falar
Insegurança alimentar atinge 36% da população. Em bom português: mais de um terço dos brasileiros passa fome. “A situação está ruim”, disse a repórter. Esqueceu-se de que ru-im tem duas sílabas. Orgulhosas, elas gostam de ser bem pronunciadas. O acento tônico cai na última (im). É como Joaquim, arlequim, gergelim. Não diga “rúim” como a apressada profissional.


Intruso
Por alguma razão que intriga até a Deus, estados que não têm artigo no nome passaram a ser pronunciados na companhia do pequenino. Os solitários Goiás, Sergipe, Pernambuco, Mato Grasso e Mato Grosso do Sul viraram o Goiás, o Sergipe, o Pernambuco, o Mato Grosso, o Mato Grosso do Sul.


É a receita do cruz-credo. As autossuficientes unidades da Federação dispensam a companhia: Goiás faz divisa com o Distrito Federal. Nasci em Goiás. Ele é de Goiás. Sergipe faz parte da Região Nordeste. Pernambuco também. Trabalha em Sergipe, mas mora em Pernambuco. Você é de Mato Grosso ou de Mato Grosso do Sul?


Leitor pergunta
Pode me explicar o significado da expressão sine qua non?
Jéssica Araújo, Belo Horizonte (MG)


Sine qua non é uma latina exibida. Quer dizer condição indispensável. Cuidado com ela. Só use as três palavrinhas no singular: Reduzir a pobreza é condição sine qua non para o desenvolvimento sustentável do país.


E o plural? É sine quibus non. Valha-nos, Deus. Ninguém entende. Se você se referir a mais de um ser, deixe o esnobismo pra lá. Sirva-se do português nosso de todos os dias: Reduzir a pobreza e respeitar os direitos humanos são condições indispensáveis para o desenvolvimento sustentável do país.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver todos os colunistas
Logo A Tribuna