Dicas de Português: Respeito, senhor

A história se repete todos os anos. Pra lá de bem-vinda, a temporada da premiação mais respeitada do mundo começou esta semana. Três cientistas receberam o Nobel de Medicina

Por: Dad Squarisi  -  07/10/20  -  11:07

Recado


O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade.” - Winston Churchill


A história se repete todos os anos. Pra lá de bem-vinda, a temporada da premiação mais respeitada do mundo começou esta semana. Três cientistas receberam o Nobel de Medicina: Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice.


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Viva! O fato, claro, vira notícia. Rádios e tevês o anunciam com o respeito que merece. Mas desrespeitam a língua. Esquecem que Nobel se pronuncia como papel e Mabel. Oxítona, a sílaba tônica é a última.


Por falar em pronúncia


Outras vítimas da pronúncia que figuram na boca de gregos, romanos e troianos são subsídio e gratuito. Vale lembrar: o s de subsídio se pronuncia como o s de subsolo. O ditongo ui de gratuito se diz do mesmo jeitinho que o ui de circuito.


Criaturas comuns


Harvey, Michael e Charles vão dividir a bolada de 10 milhões de coroas suecas. O valor corresponde a R$ 6,3 milhões. Eles descobriram o vírus da hepatite C, que inflama o fígado e pode causar câncer. Ao falar no assunto, vale trazer à tona pormenor linguístico. Nome de doença é vira-lata. Escreve-se com a inicial pequenina: gripe, covid-19, leucemia, labirintite, enxaqueca.


Mesmo time


Moeda joga no mesmo time de doença. Grafa-se com inicial pequenina: real, dólar, euro, lira, peso.


A frase e a máquina


“A prosa vigorosa é concisa. A frase não deve ter palavras desnecessárias pela mesma razão que o desenho não deve ter linhas desnecessárias nem a máquina partes desnecessárias. Isso não quer dizer que o autor faça breves todas as suas frases, nem que evite todos os detalhes, nem que trate seus temas só na superfície: apenas que cada palavra conta.” (William Strunk Jr.)


Dramalhão


Valha-nos, Deus! A volta às aulas deixou de ser novela. Virou dramalhão mexicano. O governo autoriza o retorno. A Justiça desautoriza. O governo recorre. A Justiça libera. Professores recorrem. A Justiça acata a reivindicação. Ufa! Uma palavra traduz as idas e vindas. É vaivém. Ou vai e vem.


Por via das dúvidas


Bolsonaro fez cirurgia na semana passada. Tirou cálculos da bexiga. Na segunda, voltou ao hospital pra avaliação. Fez ultrassom. Trouxe às manchetes o prefixo ultra-. Ele pede hífen quando seguido de h ou a. No mais, é tudo colado (ultra-higienizador, ultra-armado, ultravioleta). Quando seguido de palavra começada por s ou r, dobra a letra pra manter a pronúncia: ultrassom, ultrarrápido.


Guerra de egos


E povo do andar de cima, hem? É uma brigalhada sem fim. Marinho bate em Guedes, que bate em Rodrigo Maia, que atira pra todos os lados. Ufa! Nem parece que vivem em país mergulhado na pandemia que exibe realidade preocupante cuja face mais cruel são 13 milhões de desempregados.


Os confrontos trouxeram uma palavra ao cartaz. É ególatra. Ela vem de longe. De ego nasceu eu. E deu origem a conhecida prole. Egoísta é um de seus membros. Egocêntrico, outro. Ególatra, mais um. Todos têm os dois olhos postos no próprio umbigo.


Adorar a si mesmo é tão velho quanto o céu e a Terra. A mitologia grega tem até um deus pra representar a egolatria. É Narciso. O mancebo era o belo entre os belos. As ninfas não resistiam a seus encantos. Batiam o olho nele e caíam de amor. O moço não estava nem aí.,.


Leitor pergunta


Com crase ou sem crase: à zero hora ou a zero hora? - Gláucia Sena, BH


A locução adverbial formada de palavra feminina pede o acento grave: à zero hora, às claras, às escuras, às apalpadelas, à meia-noite.


Quer um macete? Substitua hora por meio-dia. Se na troca der ao, não duvide. Ponha o grampinho: O avião decola à 0h (ao meio-dia). A aula começa às 14h (ao meio dia). Estou no aeroporto desde as 4h (desde o meio-dia).


Dad Squarisi é jornalista e escritora
dad.squarisi@gmail.com


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