Crise gerada na pandemia acelera renovação do turismo na Baixada Santista

Presidentes da Abear e APT-Baixada falam sobre o momento do setor que perdeu 40% dos empregos em um ano

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  25/04/21  -  10:51
  Confinamento têm estimulado as viagens curtas
Confinamento têm estimulado as viagens curtas   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Levantamento da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) aponta que o número de empregos no Turismo teve um decréscimo de 40%, na comparação entre 2019 e 2020. Naquele ano, eram 4 milhões de postos em toda a cadeia (que inclui hotelaria, comércios e serviços locais, terceirizados e indiretos); no ano passado, esse número estava em 2,4 milhões, segundo o estudo.



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“Percebemos o tamanho da crise, quando um avião de Guarulhos com destino a Milão, que saía normalmente com 90% de lotação, levantou voo com 30% (em fevereiro do ano passado)”, aponta o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz.


Como um dos principais vetores do Turismo – é pelo ar que a maioria dos sonhos de viagem começa – o setor da aviação no País sofreu impacto proporcionalmente maior no fechamento de vagas.


Como um todo, a cadeia de transporte aéreo teve uma perda expressiva de 73% dos postos. Em 2019, eram 1,5 milhão; ano passado, o número estava em 401 mil. O drama só não foi maior, porque as empresas de aviação comercial conseguiram tomar medidas que amorteceram a crise, mantendo estável o nível de postos de trabalho – ao redor de 60 mil nesse nicho. “Começamos a nos preparar naquele momento (do sinal amarelo do voo praticamente vazio para Milão)”, revela Sanovicz.


Frentes de atuação


A atuação da Abear, que reúne as principais empresas de aviação do Brasil, ocorreu em três blocos, o da redução de custos internos, postergando a chegada de novos aviões e firmando acordos com sindicatos de trabalhadores para vincular a garantia de emprego à redução de salários e jornadas, antes do Governo Federal implementar a medida em âmbito nacional.


No segundo bloco, aponta Sanovicz, firmaram-se acordos com os órgãos públicos envolvidos na operacionalidade da aviação. Nesse rol, entraram, por exemplo, Ministério da Infraestrutura, do Turismo, Anac e Infraero, além da Secretaria Nacional do Consumidor.


Com isso, o setor obteve postergação do pagamento de tarifas operacionais e o acordo para que o consumidor conseguisse remarcar as passagens já pagas no período de um ano, sem custos. “Diferente de outros países, o Brasil não parou voos domésticos, mantivemos 8% da malha. Isso permitiu fazermos coisas relevantes”, diz Sanovicz. “Transportamos gratuitamente 3 mil profissionais da saúde e 21 milhões de vacinas, órgãos para transplantes, alimentos, EPI’s, respiradores”, cita.


Hoje, a malha doméstica brasileira est-á em 36,8% do que havia anteriormente à crise sanitária.


A coisa complicou


No terceiro bloco, como diz Sanovicz, “a coisa complicou”. As empresas foram ao Ministério da Economia solicitar linhas de crédito, como vem ocorrendo em outros países. “Dos 20 maiores grupos no mundo, 17 foram objeto de auxílio por parte de seus governos”.


A Air France, por exemplo, teve 3 bilhões de euros de empréstimo convertidos em dívida híbrida perpétua, mais o investimento de 1 bilhão de euros, pelo governo, em troca da participação na empresa. Com isso, o estado francês detém hoje 29,9% da companhia.


“Aqui no Brasil não foi possível”, lamenta Sanovicz. Isso obrigou as empresas a encontrar as próprias soluções nesse aspecto. Mesmo assim, o presidente da Abear descarta falências. “Esperamos uma recuperação da malha doméstica por volta de setembro, outubro, novembro, mas condicionada à massificação da vacina”.


Crise acelera renovação


Pela razão óbvia de que o Turismo existe, basicamente, pelo deslocamento das pessoas, em um momento em que esse deslocamento precisa ser desestimulado, não há turismo. Assim, para o presidente da Associação dos Profissionais do Turismo (APT) da Baixada Santista, Eduardo Silveira, é natural que o setor seja um dos mais prejudicados na crise da pandemia. “É o que rege a atividade:a pessoa vai a algum lugar onde não tem residência fixa”, explica.


Porém, ele identifica outros movimentos e tendências do turista, que deve pautar o Turismo, talvez até após o fim da pandemia. “As pessoas estão dando mais valor ao que já havia à mão, que reconecta com algo familiar, as viagens da vida”.


O próprio Eduardo dá um exemplo: com parentes no Interior do Estado, recebe com frequência pedidos para que mande a eles fotos do mar. Esse movimento nostálgico e a ansiedade causada pelo confinamento têm estimulado as viagens curtas, mais exclusivas, e o conceito de ‘room office’: pessoas em trabalho remoto, que preferem se instalar em hotéis, geralmente em contato com a natureza.


Consultor


Com isso, uma tendência do mercado, que acaba se intensificando na pandemia, é a da ampliação do papel do agente de viagens. “Ele é um consultor, muito mais do que um vendedor de viagens. Ele vai perguntar do que o cliente gosta, com quem ele vai viajar. e vai prestar orientação, as possibilidades, se o cliente quer alugar um carro. Ou informar, ‘vai viajar com criança? Não tem hospital por perto”, exemplifica.


Segundo ele, essa especialização do agente, que se torna um consultor, só existia de maneira mais acentuada no turismo de luxo. “Hoje, fala-se de empreendedorismo, economia criativa... tudo isso são nuances presentes no Turismo”, reflete.


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