Palácio de Versalhes, Paris. Kremlin, Moscou. Museu do Amanhã, Rio de Janeiro. Pirâmides... quase nem precisa escrever: do Egito. O número de cidades que se confundem com seus prédios só não é maior do que o de visitantes que recebem – em muitos casos, justamente por causa desses prédios. Se viajar é sair da rotina para conhecer algo novo, turismo e arquitetura têm tudo a ver.
“É o foco em qualquer lugar que a gente vá. Seja como instituição, religião, é uma das referências principais do que o ser humano é e suas relações de poder”, define a arquiteta e urbanista Jaqueline Fernández Alves.
Como membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural e Histórico de Santos (Condepasa), Jaqueline mira especialmente as edificações históricas. Nesse nicho, o florescer turístico é diretamente proporcional à preservação. “O estado (no Brasil) passou a olhar para isso nos anos de 1940. Na França, vem do século 18. A preservação está ligada à questão econômica”.
Jaqueline defende ações coordenadas do Poder Público para fomentar o turismo arquitetônico. Assim, por exemplo, no caso de Santos, além da preservação, é preciso estimular a História e histórias de cada lugar. “Nos prédios tortos poderia haver um QR Code explicando quem construiu, quem reformou, o motivo de serem tortos”, analisa. E prossegue: “no Morro São Bento, ver os chalés, as bordadeiras, era um lugar para turista ir”.
Maurício Azenha, coordenador do curso de Arquitetura da Universidade Paulista (Unip), vai além: para ele, há cidades que se tornam turísticas justamente pela sua arquitetura. No Brasil, cita Ouro Preto e Brasília. “Uma, pelas edificações coloniais intocadas, a outra, pela sua própria arquitetura”.
Segundo analisa, com planejamento, é possível transformar a arquitetura de uma cidade, colocando-a em um circuito turístico. Ele dá o exemplo de Bilbao, no País Basco, na Espanha, que após receber o prédio futurista da quinta sede do Museu Guggenheim, em 1997, entrou no radar dos visitantes.
“Hoje, após Barcelona e Madri, é uma das cidades com maior visitação da Espanha. (Trazer o museu) custou muito ao governo local, mas foi um catalisador dessa mudança no turismo”, avalia.
Guardadas as proporções, é o que ocorre em Niterói, com o Museu de Arte Contemporânea, projeto de Oscar Niemeyer em formato de um cálice, inaugurado em 1996. “Ninguém vai a Niterói para ir no Museu. Mas se você está no Rio de Janeiro e tem apreço pela arquitetura, provavelmente irá cruzar a ponte”.
Um edifício que é atração turística se torna um vetor de desenvolvimento não só econômico, mas também estrutural, a outros setores, segundo analisa Azenha. Assim, são restaurantes e bares que se modernizam, a mão de obra que se especializa – tudo para atender ao visitante. “Existem arquitetos que, se projetam algo, já tornam a cidade em um polo de atração”, encerra.
Não é qualquer arquitetura que desperta o interesse turístico. Ela tem que resgatar o passado ou projetar o futuro. Ou seja, arrancar a pessoa do presente, avalia Rita Helena de Lemos Yoshitaka, arquiteta, especialista em restauro. Na prática, os prédios históricos ou os ultramodernos, como o BurjKhalifa, em Dubai, são as pontas dessa equação.
“Pela arquitetura, a gente cria signos, significados, vínculo com a História. A gente se aproxima da essência das pessoas e lugares”.