Arte que não exclui: músico cego de Santos supera limitações e toca trompete nas feiras livres

Trompetista Gilmar Ribeiro dos Santos se apresenta com a esposa nas ruas da cidade

Por: Daniel Rodrigues*  -  29/10/21  -  12:47
 Gilmar Ribeiro e a mulher, Claudia Cristina, se apresenta em feira livre de Santos:
Gilmar Ribeiro e a mulher, Claudia Cristina, se apresenta em feira livre de Santos:   Foto: Daniel Rodrigues

O trompetista Gilmar Ribeiro dos Santos, de 46 anos, usa a música como meio de inspiração ao público e às pessoas que, assim como ele, lidam com a deficiência visual. Desde 2018, o músico direciona seu talento nas feiras livres de Santos ao projeto motivacional Música, a Arte que não Exclui.


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“Há três anos, minha esposa e eu tivemos essa iniciativa, porque sempre ouvíamos os músicos tocando nas portas dos shoppings e em lugares movimentados”, conta Gilmar.


Ele teve a mesma disposição dos artistas de rua e decidiu iniciar o projeto para mostrar seu talento. “Foi para o público saber que, embora sejamos deficientes visuais, não há barreiras que não possamos superar”.


Esposa do músico, Claudia Cristina toca flauta transversal e se apresenta com o marido. A dupla toca sobre a base de música instrumental, inserindo só a melodia. O casal também se apresenta em asilos, bandas, casamentos e até velórios. “Nós estamos nas feiras, porque é um local por onde passam muitas pessoas, de todas as classes sociais, e elas admiram nossa arte, nos respeitam, valorizam contribuindo com alguns centavos ou reais”, conta Ribeiro.


Ribeiro admite que, hoje, não é possível sobreviver apenas da música, e a atividade se tornou um complemento para manter as contas equilibradas. Quando o tempo favorece nas feiras livres, eles costumam ganhar até R$ 120,00 por dia. Se chove, a arrecadação despenca para algo em torno de R$ 40,00 a R$ 60,00.


A dupla tenta criar um ambiente mais agradável nos locais onde toca. “Nosso repertório é bem vasto, abrange desde músicas mais antigas até atuais, religiosas e infantis. A gente busca atender todos os públicos”, diz o trompetista. “É o próprio público que pede para tocarmos esses tipos de músicas”


A música sempre esteve de alguma forma ligada ao dia a dia de Gilmar Ribeiro. “Eu sou deficiente visual desde criança. Fui perdendo a visão ao longo do tempo, hoje não enxergo mais nada. Mas a música sempre esteve presente na minha vida. Aprendi a tocar trompete na orquestra da igreja, depois toquei em bandas, escolas e no Lar das Moças Cegas”.


Gilmar já foi atleta de goalball do Santos, além de professor de Educação Física, Teologia e Orientação e Mobilidade. “Sou aposentado por invalidez, sem condições de dar aula, e minha esposa foi afastada do trabalho por causa do câncer. A música foi um meio para desenvolver um pouco de arte".


* Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna-UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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