Atleta supera dificuldades causadas pela esclerose múltipla para se tornar referência no esporte

Apesar da doença, Beth Gomes, conquistou títulos internacionais, ouro paralímpico e coleciona 18 recordes mundiais

Por: Daniel Rodrigues*  -  01/12/21  -  17:56

A campeã paralímpica no lançamento de disco, Elizabeth Rodrigues Gomes, conhecida no esporte como Beth Gomes, de 56 anos, passou por diversas dificuldades na sua vida por conta da esclerose múltipla. No final do ano de 2017, após ter ficado em quinto lugar no mundial, acabou tendo um agravamento da doença, o que lhe afastou das competições. Mesmo assim, com toda garra, superou as dificuldades e conquistou vários títulos importantes para o paratletismo mundial. Recentemente, a atleta foi medalha de ouro na competição Meeting Loterias Caixa de Atletismo Paralímpico, nas modalidades lançamento de disco e arremesso de peso, obtendo um novo recorde mundial.


Nas Paralimpíadas de Tóquio, Beth conquistou a medalha de ouro, no lançamento de disco
Nas Paralimpíadas de Tóquio, Beth conquistou a medalha de ouro, no lançamento de disco   Foto: Rose Farias

Beth Gomes nasceu em Santos, no bairro do Macuco, e, antes de ser diagnosticada com a doença, já demonstrava afinidade com o mundo esportivo. “Fui jogadora de vôlei convencional dos meus 14 aos 27 anos, quando me tornei tricampeã dos Jogos dos Funcionários Públicos Municipais de Santos”, conta a paratleta.


Muitos não sabem, mas Elizabeth era Guarda Civil Municipal em Santos - se aposentou por conta da saúde. A esclerose múltipla é uma doença autoimune que atinge o cérebro, os nervos ópticos e a medula espinhal. O sistema imunológico ataca a camada protetora que envolve os neurônios, chamada mielina, e atrapalha o envio dos comandos do cérebro para o resto do corpo.


“Após o diagnóstico de Esclerose Múltipla, em 1993, passei a ser jogadora de Basquete sobre rodas. Em 1996 fui apresentada para o esporte paralímpico e entrando na fase de aceitação da deficiência pela equipe ADFISA de Santos”, explica Beth, que em 1997 passou a fazer parte do grupo de atletas da Associação para Educação, Esporte, Cultura e Profissionalização da Divisão de Reabilitação do Hospital das Clínicas (AEDREHC). De 1998 a 2021 passou a integrar a seleção brasileira principal.


Atletismo
Foi a partir do ano de 2006 que Beth Gomes começou a praticar atletismo, paralelamente ao basquete. O seu desempenho a levou a mais uma seleção brasileira principal, agora no atletismo. Por isso, ela teve que optar somente por uma modalidade e, em 2011, participou do seu primeiro Parapan, que foi realizado no México.


Em 2013, acabou trocando de treinador e de equipe, mesmo ano que competiu pela primeira vez no mundial, na França - terminou na quinta colocação. Em 2015, no Parapan de Toronto no Canadá, conquistou a medalha de ouro no lançamento de disco e prata no arremesso de peso, conquistando seus primeiros títulos internacionais. Também foi medalha de bronze no mundial de Doha, que aconteceu no mesmo ano.


Dia a dia
Beth Gomes treina seis vezes por semana, respeitando um intervalo de recuperação por conta da doença. Pelas conquistas que teve em sua carreira, a campeã paralímpica se sente agradecida por tudo que ganhou. “Fico muito feliz e grata a Deus por me honrar com tamanhas conquistas. Fruto de um trabalho árduo e uma dedicação incansável”.


No dia a dia, Beth treina, faz fisioterapia e convive com a família. Como todo esportista, possui uma dieta controlada. “Minha alimentação é balanceada e acompanhada por nutricionista. Quando posso, gosto muito de culinária japonesa”.


'Grande baque'
“Em 2016 tive um grande baque, fiquei fora das paralimpíadas do Rio, por conta de mudança de classe funcional, uma tristeza enorme, mesmo assim não parei de treinar”, conta a paratleta. O ano seguinte foi marcado por superação pela esportista, pois mesmo tendo adversidades não desistiu.


“No ano de 2017 tive que disputar em uma classe acima da minha e foi um ano incrível de superação, precisei buscar um índice muito alto para ir para meu terceiro mundial agora em Londres, quando fui quinto lugar, competindo em uma classe na qual as atletas não têm comprometimento em membros superiores como eu tenho”.


Atleta paralímpica mantém intensa rotina de treinos para competir em alto nível
Atleta paralímpica mantém intensa rotina de treinos para competir em alto nível   Foto: Rose Farias

Um ano depois conseguiu a reclassificação funcional e mudança de classe, quando baixou de classe pelos comprometimentos irreversíveis causados pela esclerose múltipla. No mesmo ano, apesar das dificuldades, conseguiu quebrar recordes mundiais nas três provas peso, disco e dardo, sendo convocada para participar dos Grand Prix de Atletismo em Berlim e Paris. Já em 2019, teve um ano recheado de conquistas.


“Ano muito fantástico, em que fui bicampeã parapanamericana no Peru, com recorde mundial. Após muito trabalho árduo consigo a tão sonhada medalha de ouro e recorde mundial em Dubai no campeonato Mundial de atletismo”, contou Beth Gomes. Fechou o ano como a melhor paratleta de todas as modalidades paralímpicas feminina do Brasil no Prêmio Paralímpico e, ainda, com a vaga e índice para as Paralimpíadas de Tóquio 2020.


“Na seletiva do Comitê Paralímpico Brasileiro em junho com minha vaga e índice já confirmadas, participei do treinamento seletivo para Tóquio, onde obtive duas quebras de recordes mundiais no lançamento de disco, recorde que já me pertencia, somando 12 quebras de recordes mundiais no lançamento de disco”, explicou a paratleta.


Nas Paralimpíadas de Tóquio 2020, que foi realizada em 2021, por conta da pandemia, Beth Gomes consagrou-se campeã Paralímpica e medalhista de ouro, com dois recordes mundiais no lançamento de disco. No seu currículo ela já tem 18 recordes mundiais conquistados entre 2018 e 2021.


* Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Paulo Bornsen e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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